segunda-feira, 8 de setembro de 2008

DOM HÉLDER CÂMARA

DOM HÉLDER CÂMARA

Nasceu em Fortaleza, em 7 de fevereiro de 1909. Era o décimo-primeiro de 13 filhos, dos quais somente oito conseguiram sobreviver a uma epidemia de gripe que assolou a região em 1905. O pai, João Câmara Filho, era guarda-livros de uma empresa comercial. A mãe, dona Adelaide Pessoa Câmara, era professora primária. Foi o pai quem escolheu o nome do filho, em homenagem a um pequeno porto situado na Holanda.
Aos 4 anos de idade, o pequeno Hélder já demonstrava especial atenção nas missas celebradas em sua comunidade e já queria ser padre. Muitas vezes, meninote, costumava brincar de celebrar missas, usando como acessórios caixas de sabonete vazias.
Em 1923, ingressa no Seminário Diocesano de Fortaleza, onde faz os cursos preparatórios e depois filosofia e teologia. Para ser ordenado sacerdote aos 22 anos de idade, o então pretendente Hélder recebeu uma autorização especial da Santa Sé, já que não tinha a idade mínima exigida. Logo no dia seguinte à sua ordenação celebrou sua primeira missa.
Com dois amigos, Dom Hélder fundou, em 1931, a Legião Cearense do Trabalho.
Dois anos depois, juntamente com lavadeiras, passadeiras e empregadas domésticas, criou a Sindicalização Operária Feminina Católica. Graças ao seu empenho como educador Dom Hélder Câmara se tornou uma espécie de Secretário da Educação do Estado do Ceará e, assim, contribuiu de maneira decisiva para a reforma do método de ensino e melhor desenvolvimento da educação pública do Ceará.
Em janeiro de 1936, Dom Hélder sai do Ceará com destino ao Rio de Janeiro, onde passa a se dedicar a atividades apostólicas e exerce as funções de Diretor Técnico do Ensino da Religião. É eleito Bispo em 20 de abril de 1952. Nessa época, com a CNBB já implantada, ajuda a criar o Conselho Episcopal Latino- Americano.
Irrequieto, idealizador, combativo e revolucionário, Dom Hélder desempenhou durante a vida papéis importantes nas mudanças sociais do país. Fundou em 1956 a Cruzada São Sebastião, no Rio, destinada a atender os favelados. Em 59, fundou o Banco da Previdência, cuja atuação se desenvolve especificamente na faixa da miséria. Foi diversas vezes delegado do Episcopado Brasileiro nas assembléias gerais realizadas fora do Brasil. Junto à Santa Sé, foi membro do Conselho Supremo de Migração, padre conciliar no Concílio Vaticano II e era conhecido no mundo todo pelo seu trabalho junto à pobreza.
Foi nomeado, em março de 1964, Arcebispo de Olinda e Recife e assumiu no dia 12 de abril, estabelecendo em Recife claro foco de resistência ao golpe militar, pela sua visão social. Criou o Governo Colegiado; a organização dos setores pastorais; criou o Movimento Encontro de Irmãos, e criou também a Comissão de Justiça e Paz.
Em l969, recebeu o título de doutor honoris causa pela Universidade de Saint Louis, Estados Unidos. E daí em diante não parou mais: recebeu títulos de doutor honoris causa em Direito e Teologia em várias universidades da Bélgica, Suíça, Alemanha, Holanda, Itália, Canadá e Estados Unidos, além dos títulos que recebeu nas universidades brasileiras. A coragem de Dom Hélder o transforma em personagem do mundo, um símbolo de resistência à ditadura.
Em 1972, seu nome é indicado para o Prêmio Nobel da Paz. O governo militar, no entanto, destrói sua candidatura: divulga na Europa um dossiê acusando o arcebispo de ter sido comunista.
A partir de 1978, o governo brasileiro inicia uma lenta abertura política. Aos poucos, cessam as perseguições. Dom Hélder dedica-se mais do que nunca a aplicar a Teologia da Libertação em sua arquidiocese.
Em 1985, ao se aposentar, deixa mais de quinhentas comunidades de base organizadas, que reúnem operários, trabalhadores rurais, retirantes e pescadores, em luta por melhores condições de vida. Dom Hélder participa da campanha pelas Diretas Já.
Pouco depois, durante a Assembléia Nacional Constituinte, percorre DOM HÉLDER CÂMARA
o país realizando debates e palestras de conscientização para a cidadania. Aos 80 anos de idade, sempre atuante, lança-se à articulação de uma campanha pela erradicação da miséria no país. A primeira e principal proposta é lutar por uma reforma agrária, para colocar o Brasil no caminho da justiça social.
Dom Hélder faleceu aos 90 anos, em 27 de agosto de 1999. Durante sua vida, recebeu o título de Cidadão Honorário de 28 cidades brasileiras e duas estrangeiras: a cidade de São Nicolau na Suiça e Rocamadour, na França.
(Estação Virtual)
♫ Ceará de Luz ♫
Ceará de luz
De serra, mar e sertão
De sal e sol
De permanente verão
Ceará um dia tupi
Tremembé, kariri, tabajara
Ceará nascido
Siriará e seara
Ceará, Dragão
Na porta do mar, disse não
Ceará de luz
Adeus escura escravidão
Ceará de luta
No passo do Conselheiro
Ceará de fé
De meu “padim Ciço”
E de cangaceiros
Ceará de gente
Valente, rebelde
Alegre e festiva
Ceará de Bárbara de Alencar
De dom Hélder e do Patativa
Ceará de índios
De brancos e negros
Na mesma canção
Ceará mestiço
O xote, o xaxado
A polca o baião

Poesia de Dom Hélder Câmara pela campanha da Anistia

O ramo com que partijá se transformou em árvore, / que nem eu sei / como tenho tido força / para carregar... / Também, / quando puder confiá-la / ao chão dos Homens / já não terá / que crescer... / É só florir e frutificar!...
Em agosto de 79, foi aprovada a Lei da Anistia. O governo lançou mão de uma estratégia que se aproveitava da linguagem jurídica para anistiar os acusados de “crimes políticos e conexos”. Com o termo “conexos”, a mesma lei contemplou centenas de opositores ao regime, presos e exilados, como também milhares de criminosos por abusos de poder, torturadores e assassinos.
Atualmente volta a tona na imprensa a polêmica sobre essa lei, vejamos trecho de um artigo do jornalista Flávio Tavares:
“A lei da anistia quis pacificar época conturbada. Não há por que modificá-la, menos ainda congelá-la para apagar a história com um borrão de tinta. Vivemos em democracia civil muito mais tempo do que os 21 anos do regime militar e a anistia deve ser ferramenta para conhecer as entranhas daquele período. Sem medo. Ocultar o passado é ardil enganoso. Nesses anos prescreveram os crimes, o tempo esmaeceu tudo. A reconciliação (objeto fundamental da anistia) só se concretizará, porém, quando ambos os lados assumirem, de público, o que fizeram.”

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