sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

O RÁDIO

Além da fundação do Partido Comunista, vários outros acontecimentos merecem registro no ano de 1922, como, por exemplo, a Semana de Arte Moderna, em São Paulo, também fruto de idéias estrangeiras em estética, trazidas da Europa por jovens intelectuais, os modernistas. Em apenas três dias agitaram intensamente a cultura brasileira. A preocupação dos modernistas neste momento foi romper com o passado e absorver as tendências vanguardistas da Europa. Com o Manifesto Pau-Brasil (1924), o movimento modernista se dedicou a “descobrir o Brasil”, buscar a identidade nacional brasileira.
Aos 7 de setembro de 1922, realizou-se a Exposição Internacional para comemorar o centenário da Independência. O discurso de abertura do presidente Epitácio Pessoa inaugurou , em transmissão experimental, a radiodifusão no Brasil. Era o início do rádio, que em breve se tornaria o maior meio de comunicação do país até o advento da televisão na segunda metade do século.
A radiocomunicação – descoberta pelo italiano Guglielmo Marconi e aperfeiçoada por vários outros inventores -, possibilidade de transmissão através do espaço de ondas eletromagnéticas capazes de produzir sons, começou no Brasil como brincadeira, como nos ensina José Ramos Tinhorão:
“Do momento em que a notícia dessa fabulosa possibilidade de transmitir os sons pelo espaço espalhou-se pelo país, começaram a surgir dezenas de curiosos resolvidos a praticar a radiodifusão como mais uma diversão tecnológica. Esse espírito de brinquedo e curiosidade de amadores ia revelar-se, desde logo, na organização de tais experiências com caráter de clubes, os famosos radioclubes que acabariam dando nome a tantas emissoras de todo o Brasil.”
Oficialmente, o rádio começou durante a exposição do centenário da Independência. As companhias norte-americanas Westinghouse e Western Eletric montaram estações no Corcovado e na Praia Vermelha, respectivamente. Transmitiam, em caráter experimental, óperas, discursos políticos e palestras educativas.
Educação foi justamente a principal motivação da criação da primeira radiodifusora permanente no Brasil. Edgar Roquete-Pinto, médico, antropólogo e educador, deslumbrou-se com a invenção do rádio e logo a concebeu como instrumento educativo. Fundou a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, em 20 de abril de 1923. Foi o estopim para que no mesmo ano fossem fundadas a Rádio Clube do Paraná e a Rádio Educadora Paulista. A segunda emissora carioca, a Rádio Clube do Brasil, veio em 1924 e daí em diante todo o espaço aéreo brasileiro passou a ser ocupado.

SEU MÉ E DOUTOR BARBADO

O ano de 1922 marca também a atribulada sucessão de Epitácio Pessoa, na segunda eleição efetivamente competitiva da Primeira República – a primeira fora a Campanha Civilista, em 1910, na primeira candidatura de Rui Barbosa. A eleição ocorreu no mês de março. Paulistas e mineiros indicaram o mineiro Artur Bernardes. A oposição, formada por Rio Grande do Sul, Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro – estados intermediários - , indicou Nilo Peçanha. Era a Reação Republicana.
O poder dominante prevaleceu, como sempre ocorreu no período, e Artur Bernardes foi eleito. Isso não significa que o processo tenha sido tranqüilo. Eventos violentos marcaram a sucessão.
A imprensa havia publicado uma série de cartas, cuja autoria era atribuída a Bernardes. Nelas, os militares eram alvos de ofensas. O marechal Hermes da Fonseca era denominado, entre outras coisas, de “sargentão sem compostura”. Foi o chamado episódio das “cartas falsas”.
A partir da Primeira Guerra Mundial, um movimento de militares liderado por jovens oficiais de baixa patente, com a participação de suboficiais, sargentos e cadetes, já vinha protestando inicialmente contra o abandono do exército. Posteriormente, além da questão militar, o movimento ganhou cunho político, reivindicando reformas políticas e sociais. Trata-se do chamado Tenentismo.
A revolta contra as “cartas falsas” foi tão grande que Epitácio Pessoa acabou fechando o Clube Militar ao enquadrá-lo em uma lei destinada a fechar associações de anarquistas e prostíbulos. Entre os tenentistas já se falava em revolução.
A primeira rebelião tenentista aconteceu logo após a eleição de Artur Bernardes,. Foi a Revolta do Forte de Copacabana. Os líderes do movimento foram o capitão Euclides Hermes (filho de marechal Hermes) e o tenente Siqueira Campos. O capitão Euclides foi negociar com o Ministro da Guerra e acabou preso. Siqueira Campos decidiu que os rebeldes iriam sair da fortaleza e enfrentar as forças fiéis ao governo. Dos 301 militares rebeldes, a maioria debandou logo à saída e apenas 18 marcharam pela Avenida Atlântica – os “18 do Forte” – e contaram com a adesão de um civil, o engenheiro Otávio Correia, para enfrentar os 3 mil soldados do governo. Ao tiroteio sobreviveram apenas os tenentes Siqueira Campos e Eduardo Gomes.
A música também testemunhou a sucessão de Epitácio Pessoa. Em 1921, uma marcha carnavalesca atacava Artur Bernardes, que tinha o apelido de “Seu Mé”:

Ai, seu Mé
Ai, Seu Mé
Lá no Palácio das Águias
Olé
Não hás de pôr o pé

Os autores, Freire Jr. e Careca, chegaram a ser presos. Em 22, após a vitória de Bernardes, a letra da canção foi devidamente retificada e gravada em disco na voz de Francisco Alves:

Ai, Seu Mé
Ai, Seu Mé
Se não fosse a Santa Cruz
Olê-ré
Tu não tomavas pé.

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