sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

A Revolução de 30


Não era apenas no samba que se processava uma revolução ao fim dos primeiros trinta anos do século XX.
Apesar de, aparentemente, a Aliança Liberal se conformar com o resultado, os getulistas acusaram o governo federal de fraudar as eleições e começaram uma conspiração discreta.
Contribuiu para alimentar o clima de golpe de Estado o fato de Washington Luís proceder a uma perseguição aos políticos mineiros e paraibanos que se opuseram à candidatura Júlio Prestes. A classe média urbana, à espera de reformas, passou a defender uma solução armada.
O estopim da revolução foi o assassinato do governador paraibano João Pessoa. Na intenção de punir seu ex-aliado, o “coroné” José Pereira, o governador bloqueou a fronteira entre a Paraíba e Pernambuco, proibindo que os moradores da região da cidade de Princesa (hoje Princesa Isabel, no sul do Estado), chefiada por Pereira, comercializassem com Recife, salvo com o pagamento de elevado imposto.
A questão se transformou em guerra civil e não contou com qualquer intervenção do governo federal. No dia 26 de julho de 1930, João Pessoa viajou até Recife. Enquanto tomava chá com políticos e amigos em uma confeitaria, o advogado João Dantas entrou, aproximou-se de sua mesa e disse: “Sou João Dantas, a quem tanto humilhastes e maltratastes”.
Disparou-lhe três tiros à queima roupa.
Para vingar-se do apoio que o advogado paraibano deu a José Pereira, os aliados de João Pessoa publicaram cartas que Dantas enviara para sua amante, Anaíde Beiriz. A professora primária caiu em desgraça e Dantas fugiu para o Recife.
Mais uma vez, Eduardo Souto, em parceria com Oswaldo Santiago, fez a história em verso e canção. O Hino a João Pessoa foi registrado em disco na voz de Francisco Alves:

João Pessoa, João Pessoa
Bravo filho do Sertão
Toda Pátria espera um dia
A tua ressurreição

João Pessoa, João Pessoa
O teu vulto varonil
Vive ainda, vive ainda
No coração do Brasil

João Pessoa era contra a luta armada para impedir Júlio Prestes de governar, mas, ironicamente, seu assassinato foi o pretexto – já que o governo federal nada fez para solucionar o conflito na Paraíba – para que os políticos ligados à Aliança Liberal (liderados por Getúlio Vargas) e os tenentistas derrubassem o Presidente. Em meio à comoção popular, começou um levante em 3 de outubro. No dia 31, Getúlio Vargas entrou triunfante no Rio de Janeiro. Chegava ao fim a “política do café-com-leite”.
Lamartine Babo compôs e Almirante gravou Barbado foi-se. “Dr. Barbado” era o apelido de Washington Luís:

De sul a norte todos viram a intrepidez
De um Brasil heróico e forte
A raiar no dia três
A Paraíba, terra santa, terra boa
Finalmente está vingada
Salve o grande João Pessoa

Dr. Barbado foi-se embora, deu o fora
Não volta mais, não volta mais...

Em 3 de novembro de 1930, Vargas tomou posse do governo “provisório”. Mesmo que a Revolução – ou contra-revolução, como ele gostava de chamar – não tenha sido de caráter militar, ficou claro que com ela os militares, que conspiravam desde a queda de Floriano Peixoto, reconquistaram o poder. Notadamente os tenentistas.
Logo que assumiu o cargo de Presidente, Getúlio anistiou os rebeldes de 22 e 24; criou os ministérios do Trabalho, Indústria e Comércio e da Saúde e Educação; modificou o sistema eleitoral; fechou o Congresso Nacional e as Assembléias Estaduais e, com exceção de Minas Gerais, nomeou interventores federais nos estados – a maioria do movimento tenentista.
Mais tarde, a música de maior sucesso do carnaval de 32 faria uma alusão à políticas dos interventores (Fui nomeado teu tenente interventor). Teu cabelo não nega, composta por Lamartine Babo, em adaptação à marcha Mulata, dos Irmãos Valença, que, depois de uma disputa judicial, passaram a assinar a canção em parceria com Lamartine. A gravação foi de Castro Barbosa:

O teu cabelo não nega, mulata
Porque és mulata na cor
Mas como a cor não pega, mulata
Mulata, eu quero o teu amor

Tens o sabor
Bem do Brasil
Tens a alma cor de anil
Mulata, mulatinha, meu amor
Fui nomeado teu tenente interventor...

Durante o governo Getúlio, os novos grupos dominantes adotaram o chamado populismo como linha política. Ou seja, a elite passou a fazer concessões ao povo, mas apenas até um limite que ela mesmo estabelecia.
Atendendo a reivindicações, oficializou-se a Previdência Social e legalizaram-se os sindicatos. Em Contrapartida, a maioria das greves foi declarada ilegal.
Para desmotivar possíveis protestos, o novo governo concedeu várias vantagens trabalhistas, tais como jornada de trabalho de oito horas diárias, salário mínimo, férias pagas, proteção ao trabalho infantil e feminino, dentre outros.

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