O século XX começou com o governo de Campos Sales (1898 – 1902), que promoveu uma política de valorização da moeda brasileira perante a libra esterlina, moeda de referência internacional – 1 libra valia 48 mil-réis. Assim, reduziram-se os preços dos produtos estrangeiros e muitas indústrias nacionais que não agüentaram a concorrência acabaram fechando ou diminuindo a produção. A crescente exportação do café, por outro lado, só fez valorizar. Era a hegemonia econômica das oligarquias agrícolas.
Nesse período, era evidente a ausência do sentimento de nacionalidade. Não havia partidos políticos de âmbito nacional. Cada estado possuía seus próprios partidos. Os mais poderosos estavam nos estados mais ricos: PRP (Partido Republicano Paulista) e PRM (Partido Republicano Mineiro), que detiveram o poder até a Revolução de 30. Foi a chamada “política do café-com-leite”.
Apesar de a concentração populacional estar no campo, cidades como São Paulo e Rio de Janeiro já começavam a mostrar características de metrópole.
A capital do Brasil era o Rio de Janeiro. Desde 1892, funcionava no Rio o estabelecimento comercial do imigrante europeu Frederico Figner; a Casa Edison – homenagem a Thomas Edison, o inventor do gramofone e do grafofone -, importadora dos aparelhos sonoros e dos cilindros de cera, com música estrangeira a princípio e sede da primeira gravadora nacional; a Odeon, com as gravações dos fonogramas de vozes pioneiras dos cantores Cadete (Antônio da Costa Moreira), Bahiano (Manuel Pedro dos Santos) e, um pouco mais tarde, Eduardo das Neves. Fred Figner deu início à profissionalização da música popular no Brasil.
Manuel Pedro dos Santos, o Bahiano, nascido em Santo Amaro da Purificação, em 1887, foi o primeiro cantor a se profissionalizar no Brasil. Foi ele o intérprete do que até o final do século XX se acreditava ser o primeiro samba gravado no país – Pelo telefone -, de autoria duvidosa, registrado por Donga e Almeida, em 1917, na gravadora Odeon. A própria Odeon já havia lançado de 1912 a 1914 Descascando o pessoal e Urubu malandro, entre outras músicas, qualificadas como samba em seu catálogo.
A BAHIA ESTAÇÃO PRIMEIRA DO BRASIL...
... QUE ALEGRIA NÃO TER SIDO EM VÃO QUE ELA EXPEDIU
AS CIATAS PRA TRAZEREM O SAMBA PRO RIO, POIS O MITO SURGIU DESSA MANEIRA...
(Onde o Rio é mais baiano – Caetano Veloso)
No Rio de Janeiro, à Rua Visconde de Itaúna, 117, situava-se a casa de Hilária Batista de Almeida, a Tia Ciata, a mais famosa das “tias” baianas – herdeiras das tradições culturais africanas encarregadas de transmiti-
las às gerações futuras. O marido de Tia Ciata, o também negro e baiano João Batista da Silva, havia cursado medicina em Salvador e por conta da formação ocupava bons empregos e contava com o respeito da polícia. A casa da Tia Ciata exalava a cultura africana: dança, culinária, cultos religiosos (candomblé) e ritmo. Pode ser considerada um dos berços do samba.
O FUNDO DE QUINTAL
No início do século XX, o samba era apenas ritmo. Não havia letras. Alguns anos antes, a partir de 1880, surgira um gênero totalmente instrumental: o choro. Os primeiros grupos de chorões foram formados pelo flautista Calado (Joaquim da Silva Calado), músico negro de excelente formação. A maioria dos músicos que cercavam Calado morava na “Cidade Nova” (RJ) e tocava ritmos estrangeiros nos bailes e saraus elegantes. Em suas reuniões, a polca da Boêmia, o schottisch teuto-escocês ou a valsa da Alemanha ou da França ganhavam um sotaque totalmente brasileiro. Era o choro. Criatividade e improviso. Suas origens brancas o tornavam aceitável pela elite e, por conseguinte, pela polícia, que não se incomodava com o som das rodas de choro que se ouvia nas salas das residências do Rio de Janeiro.
Quem passasse à porta da casa da Tia Ciata também ouviria a música dos salões. O choro, porém, funcionava como disfarce para que, no fundo, se fizesse samba. Como declara Pixinguinha: “O choro tinha mais prestígio naquele tempo. O samba, você sabe, era mais cantado nos terreiros, pelas pessoas muito humildes. Se havia uma festa, o choro era tocado na sala de visitas e o samba, só no quintal, para empregados”.
Nesse período, era evidente a ausência do sentimento de nacionalidade. Não havia partidos políticos de âmbito nacional. Cada estado possuía seus próprios partidos. Os mais poderosos estavam nos estados mais ricos: PRP (Partido Republicano Paulista) e PRM (Partido Republicano Mineiro), que detiveram o poder até a Revolução de 30. Foi a chamada “política do café-com-leite”.
Apesar de a concentração populacional estar no campo, cidades como São Paulo e Rio de Janeiro já começavam a mostrar características de metrópole.
A capital do Brasil era o Rio de Janeiro. Desde 1892, funcionava no Rio o estabelecimento comercial do imigrante europeu Frederico Figner; a Casa Edison – homenagem a Thomas Edison, o inventor do gramofone e do grafofone -, importadora dos aparelhos sonoros e dos cilindros de cera, com música estrangeira a princípio e sede da primeira gravadora nacional; a Odeon, com as gravações dos fonogramas de vozes pioneiras dos cantores Cadete (Antônio da Costa Moreira), Bahiano (Manuel Pedro dos Santos) e, um pouco mais tarde, Eduardo das Neves. Fred Figner deu início à profissionalização da música popular no Brasil.
Manuel Pedro dos Santos, o Bahiano, nascido em Santo Amaro da Purificação, em 1887, foi o primeiro cantor a se profissionalizar no Brasil. Foi ele o intérprete do que até o final do século XX se acreditava ser o primeiro samba gravado no país – Pelo telefone -, de autoria duvidosa, registrado por Donga e Almeida, em 1917, na gravadora Odeon. A própria Odeon já havia lançado de 1912 a 1914 Descascando o pessoal e Urubu malandro, entre outras músicas, qualificadas como samba em seu catálogo.
A BAHIA ESTAÇÃO PRIMEIRA DO BRASIL...
... QUE ALEGRIA NÃO TER SIDO EM VÃO QUE ELA EXPEDIU
AS CIATAS PRA TRAZEREM O SAMBA PRO RIO, POIS O MITO SURGIU DESSA MANEIRA...
(Onde o Rio é mais baiano – Caetano Veloso)
No Rio de Janeiro, à Rua Visconde de Itaúna, 117, situava-se a casa de Hilária Batista de Almeida, a Tia Ciata, a mais famosa das “tias” baianas – herdeiras das tradições culturais africanas encarregadas de transmiti-
las às gerações futuras. O marido de Tia Ciata, o também negro e baiano João Batista da Silva, havia cursado medicina em Salvador e por conta da formação ocupava bons empregos e contava com o respeito da polícia. A casa da Tia Ciata exalava a cultura africana: dança, culinária, cultos religiosos (candomblé) e ritmo. Pode ser considerada um dos berços do samba.
O FUNDO DE QUINTAL
No início do século XX, o samba era apenas ritmo. Não havia letras. Alguns anos antes, a partir de 1880, surgira um gênero totalmente instrumental: o choro. Os primeiros grupos de chorões foram formados pelo flautista Calado (Joaquim da Silva Calado), músico negro de excelente formação. A maioria dos músicos que cercavam Calado morava na “Cidade Nova” (RJ) e tocava ritmos estrangeiros nos bailes e saraus elegantes. Em suas reuniões, a polca da Boêmia, o schottisch teuto-escocês ou a valsa da Alemanha ou da França ganhavam um sotaque totalmente brasileiro. Era o choro. Criatividade e improviso. Suas origens brancas o tornavam aceitável pela elite e, por conseguinte, pela polícia, que não se incomodava com o som das rodas de choro que se ouvia nas salas das residências do Rio de Janeiro.
Quem passasse à porta da casa da Tia Ciata também ouviria a música dos salões. O choro, porém, funcionava como disfarce para que, no fundo, se fizesse samba. Como declara Pixinguinha: “O choro tinha mais prestígio naquele tempo. O samba, você sabe, era mais cantado nos terreiros, pelas pessoas muito humildes. Se havia uma festa, o choro era tocado na sala de visitas e o samba, só no quintal, para empregados”.
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