terça-feira, 11 de março de 2008

FIDEL CASTRO E A ILHA DE CUBA

O que já era esperado por muitos, confirmou-se há poucos dias: Fidel Castro renunciou à Presidência dos Conselhos de Estado e de Ministros e à Chefia das Forças Armadas em Cuba, o qual governava desde 1959, como Chefe de Governo, e desde 1976, como Chefe de Estado. Fidel Alejandro Castro Ruz, nascido em Birán, Holguín, em 13 de Agosto de 1926, já havia delegado, provisoriamente, em agosto de 2006, o poder na Ilha, por conta de uma doença intestinal grave, ao seu irmão, General Raúl Castro, 76 anos, Ministro da Defesa que, recentemente, foi eleito Presidente pelo Parlamento cubano. Para seus defensores, Castro representa o herói de uma revolução social e a garantia de repartição eqüitativa da riqueza no país, devido a sua política socialista. Para seus adversários, internos e externos, no entanto, Castro é um líder de regime ditatorial baseado numa política de partido único. Um líder bastante contestado e também admirado internacionalmente, principalmente pela sua ideológica e forte resistência às influências comerciais e sociológicas dos E.U.A.

Infância e estudos

Filho de Ángel Castro Argiz, imigrante da Galiza, e Lina Ruz González, Fidel Castro foi educado em colégios jesuítas. Atuou como acólito (ajudante do padre na missa). Em 1945 entrou na Universidade de Havana, na faculdade de Direito e no segundo ano editou o periódico mensal Saeta, no qual reproduzia além de outras coisas, conferências de classes para entregar gratuitamente a seus colegas de estudo. Depois de graduado em 1949, dedicou-se de modo especial à defesa dos opositores ao governo, trabalhadores e sindicatos, denunciando as corrupções e atos ilegais do governo de Carlos Prío através do diário Alerta e das emissoras Radio Álvarez e COCO e se vinculou estreitamente ao Partido do Povo Cubano (Ortodoxo) que era liderado por Eduardo Chibás, partido pelo qual seria candidato a Representante nas eleições de 1952. O golpe de estado em 10 de março de 1952 por Fulgêncio Batista, ao qual Fidel condenou no diário La Palabra o convenceu da necessidade de buscar novas formas de ação para transformar a sociedade cubana. Nos dias que seguiram o golpe, imprimiu e distribuiu clandestinamente sua denúncia. Se uniu a jovens que editavam o periódico clandestino, Son los Mismos, sugeriu a troca de seu nome pelo de El Acusador e foi co-editor deste novo órgão, onde assinou seus trabalhos apenas com seu segundo nome, Alejandro. Daquele grupo sairia o núcleo inicial de jovens que sob seu comando atacariam de assalto os quartéis de Moncada em Santiago de Cuba e de Céspedes, em Bayamo, em 26 de julho de 1953 e fundaria depois o Movimento Revolucionário 26 de Julho (M-26-7).

A história me absolverá

Fidel foi preso e no julgamento que se seguiu pelas ações, assumiu sua própria defesa e defendeu o direito dos povos de lutarem contra a tirania. Condenado a vinte e seis de prisão, começou a cumprir a pena na prisão de Boniato, em Santiago de Cuba, e depois foi transferido ao Presidio Modelo, em Isla de Pinos, onde reelaborou sua auto-defesa que levou o nome de "A história me absolverá" que teve sua primeira publicação e distribuição clandestinas em 1954 e foi reeditada inúmeras vezes em Cuba, como em muitos outros países e traduzido em diversos idiomas. Após ser anistiado, em maio de 1955, volta a escrever no diário La Calle e no semanário Bohemia e participa de eventos radioauditivos e televisivos, enquanto estruturava o movimento 26 de julho. Porém, ao começarem a censurar seus artigos e a cerrarem as vias e meios legais de expressão de suas idéias, decidiu rumar, dois meses depois de solto, ao seu exílio no México, onde trabalhou na preparação dos homens que o acompanhariam em seu intento de iniciar a luta insurrecional em Cuba, participou em atividades políticas, escreveu o Manifesto número um do Movimento 26 de Julho ao povo de Cuba que circulou clandestinamente na Ilha.

A Revolução

Em 1955, viajou aos E.U.A. em busca de apoio dos emigrados cubanos neste país e pronunciou discursos em Nova York e Miami. Ao fim de novembro de 1956, partiu do porto mexicano de Tuxpan, a bordo do Iate Granma, com varias dezenas de combatentes e em 2 de dezembro desembarcaram na praia Las Coloradas, próxima a Niquero (Oriente), e se abrigaram em Sierr Maestra onde permaneceu por mais de dois anos a frente do Exército Rebelde Cubano, do qual era Comandante em Chefe. Neste ínterim, desenhou e guiou a tática e a estratégia da luta contra Fulgêncio, financiada e apoiada pelos norte-americanos e pela unidade de ação das forças opositoras revolucionárias. Comandou diversos combates que culminaram em vitórias de suas tropas, orientou a criação de novas frentes guerrilheiras em Oriente e Las Villas, trabalhou na preparação de leis fundamentais que deveriam promulgar-se uma vez alcançada a vitória e divulgou suas idéias através de meios improvisados na própria Sierra Maestra como o periódico El Cubano Libre, a emissora Radio Rebelde e mediante entrevistas realizadas por jornalistas cubanos e estrangeiros.

Pós-revolução

Com a fuga de Batista em 1º de janeiro de 1959, convocou generais para consolidar a vitória da Revolução e marchou até Havana, onde entrou em 8 de janeiro. O Governo revolucionário instaurado o designou primeiramente Comandante em Chefe de todas as Forças Armadas, terrestres, aéreas e marítimas e depois, em meados de fevereiro, Primeiro Ministro. Castro visitou os E.U.A. após a vitória. A antiga URSS deu apoio econômico e militar à Ilha, comprando a maioria do açúcar cubano. A partir de então, Cuba passou a sofrer um embargo econômico por parte dos E.U.A. Castro então começou a impulsionar a criação de um novo aparato estatal, escreveu leis a favor dos setores carentes, como a lei de Reforma Agrária, assinada em Sierra Maestra, em 17 de maio. Também fundou o Instituto Nacional de Reforma Agrária e instituições culturais como a Imprensa Nacional de Cuba e o Instituto Cubano de Arte e Indústria Cinematográfica, nacionalizou empresas estrangeiras, desenvolveu a indústria nacional e a diversificação agrícola e a Campanha de Alfabetização (pioneira no mundo), a nacionalização e gratuidade do ensino em todos os níveis, a eliminação da saúde pública privada e do desporto profissional, a melhoria das condições de vida dos setores mais populares, o estabelecimento de vínculos com nações de todo o mundo e todos os sistemas sociais de governo, a incorporação de Cuba ao Movimento de Países Não Alinhados, a definição de uma política exterior independente, e a declaração do caráter socialista da Revolução Cubana.

Canto a Fidel
Por: Ernesto "Che" Guevara

”Vamos, ardoso profeta da alvorada,
por caminhos longínquos e desconhecidos,
liberar o grande caimão verde* que você tanto ama...
Quando soar o primeiro tiro
e na virginal surpresa toda selva despertar,
lá, ao seu lado, seremos combatentes
você nos terá.
Quando sua voz proclamar para os quatro ventos
reforma agrária, justiça, pão e liberdade,
lá, ao seu lado, com sotaque idêntico,
você nos terá.
E quando o final da batalha
para a operação de limpeza contra o tirano chegar,
lá, ao seu lado, prontos para a última batalha,
você nos terá...
E se o nosso caminho for bloqueado pelo ferro,
pedimos uma mortalha de lágrimas cubanas
para cobrir nossos ossos guerrilheiros
no trânsito para a história da América.
Nada mais.”

* Caimão verde era o nome alegórico atribuído à ilha de Cuba.(poema escrito pouco tempo antes de embarcarem no iate Granma rumo a Cuba)

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