terça-feira, 11 de março de 2008

ALBERTO NEPOMUCENO


Nasceu em Fortaleza no dia 6 de julho de 1864 e faleceu no Rio de Janeiro em 16 de outubro de 1920. Considerado o pai da canção de câmara brasileira, tendo insistido na necessidade de utilização do idioma nacional como mais uma forma de nacionalizar a linguagem musical.
Em 1872 foi para Recife estudar piano e violino. La manteve amizade com alunos e mestres da Faculdade de Direito, entre os quais fervilhavam idéias e análises sociais de vanguarda. Tornou-se um defensor atuante das causas republicanas e abolicionistas, sem descuidar, no entanto, de suas atividades como músico.
Em 1885 mudou-se para o Rio de Janeiro, dando continuidade aos seus estudos de piano. Seu grande interesse pela literatura brasileira e pela valorização da língua portuguesa, aproximou-o de alguns dos mais importantes autores da época, surgindo, da parceria com poetas e escritores, várias composições como Artemis, Coração triste e Numa Concha.
Em 1887 compôs Dança de Negros, com utilização de motivos étnicos brasileiros, e que mais tarde se tornou Batuque, da Série Brasileira. Dessa época são Mazurca, Une Fleur, Ave Maria e Marcha Fúnebre.
Em 1888 foi para a Europa, com o objetivo de ampliar sua formação musical. Primeiro esteve em Roma. Em 1890 foi para Berlim, onde aperfeiçoou seu domínio da língua alemã e estudou composição.
Em 1893 casou-se com a pianista norueguesa Walborg Bang, aluna de Edvard Grieg, o mais importante compositor norueguês da época, representante máximo do nacionalismo romântico. Após seu casamento, foi morar na casa de Grieg em Bergen. Esta amizade foi fundamental para que Nepomuceno elaborasse um ideal nacionalista e, sobretudo, se definisse por uma obra atenta à riqueza cultural brasileira.
Em 1894 foi para Paris aprimorar os estudos de órgão. Lá conheceu Saint-Saëns, Charles Bordes, Vicent D'Indy e outros. A convite de Charles Chabault, catedrático de grego na Sorbonne, escreveu a música incidental para a tragédia Electra.
Em 1895 realizou um concerto histórico: apresentou pela primeira vez, no Instituto Nacional de Música, uma série de canções de sua autoria, em português. Estava deflagrada a guerra pela nacionalização da música erudita brasileira, contrariando aqueles que afirmavam que a língua portuguesa era inadequada para o bel canto.
A luta pela nacionalização da música erudita foi ampliada com o início de suas atividades na Associação de Concertos Populares, que dirigiu por dez anos (1896-1906), promovendo o reconhecimento de compositores brasileiros. A sua coletânea de doze canções em português foi lançada em 1904.
O Garatuja, comédia lírica baseada na obra homônima de José de Alencar, é considerada a primeira ópera verdadeiramente brasileira no tocante à música, ambientação e utilização da língua portuguesa. (EMB)

Dor Sem Consolo
Composição: Alberto Nepomuceno / Conde Affonso Celso


Senhor, se ao meu sofrimento
Consolo só podeis dar
Num completo esquecimento
Fazendo meu pensamento
Todo um passado riscar
Se certas cenas o olvido
Para acalmar os meus ais
Deve extinguir, fementido
Como se nunca vivido
Tivesse eu cenas tais
Se nem sequer de saudade
Guardar posso a murchar flor
(Que ao seu perfume não há
De passar a minha ansiedade)
Oh, nesse caso, Senhor...
Minh'alma repele a cura
Prefere a recordação
Sofrerá sua tortura
Como Raquel da escritura
Sem querer consolação
Desterro
Composição: Alberto Nepomuceno / Olavo Bilac

Já não me amas? Basta! Irei triste e cansado
Do meu primeiro amor para outro amor, sozinho
Beijo-te inda uma vez, num último carinho
Como quem vai sair da pátria desterrado
Adeus, pele cheirosa! Adeus, primeiro ninho
Do meu delírio! Adeus, belo corpo adorado!
Em que como num vale, adormeci deitado
No meu sonho de amor, em meio do caminho
Adeus, carne gentil, pátria do meu desejo!
Berço em que se emplumou o meu primeiro idílio
Terra onde floresceu o meu primeiro beijo!
Adeus! Que esse outro amor há de amargar-me tanto
Como o pão que se come entre estranhos, no exílio
Amassado com fei e embebido de prato



Xácara
Composição: Alberto Nepomuceno/Orlando Teixeira

Dona Alva, minha senhora, que tanto amor inspirais,
Hei de querer-vos embora,
Dona Alva, não me queirais.
Pois o querer-vos agora, eu prefiro tudo o mais,
Dona Alva, minha senhora, que tanto amor inspirais.
Dona Alva, minha senhora, dona de risos fatais,
Alegre, garula, mora como um bando de zagais.
Nos vossos olhos a aurora; e em que trevas me mergulhais.
Dona Alva, minha senhora, dona de risos fatais.

Dona Alva, minha senhora, senhora de olhos mortais,
Tanto esta alma vos adora, tanto me desadorais,
Seja! Esta amor não decora muito embora maldigais
Dona Alva, minha senhora, senhora de olhos mortais.

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