quinta-feira, 5 de junho de 2008
DIRETAS JÁ (25 de abril de 1984)
Entre os últimos meses de 1983 e abril de 1984, o Brasil foi agitado por um dos maiores movimentos cívicos de sua história: a campanha das "Diretas Já".
Grandes manifestações populares aconteceram em todo o país, reivindicando o restabelecimento das eleições diretas para presidente da República, que haviam sido substituídas por um pleito indireto no Congresso nacional durante o regime militar.
A idéia de que o processo de redemocratização da sociedade brasileira só se concretizaria com o retorno imediato das diretas foi lançada pelo senador alagoano Teotônio Vilela, do PMDB, em 1983.
Teotônio tornara-se um símbolo dos ideais democráticos, uma vez que, tendo sido partidário dos governos militares, aderiu à oposição e presidiu a comissão parlamentar que discutiu a anistia aos opositores presos ou exilados do regime.
O senador visitou pessoalmente presos políticos em todo o país, num momento em que isso ainda representava um ato de coragem e rebeldia. Sua morte, devida a um câncer generalizado, em 27 de novembro de 1983, coincidiu com o primeiro grande comício da campanha, que reuniu 15 mil pessoas na praça Charles Miller, em frente ao estádio do Pacaembu, na cidade de São Paulo.
O movimento ganhou um objetivo concreto quando o recém eleito deputado federal Dante de Oliveira, do PMDB de Mato Grosso, começou a recolher assinaturas no Congresso nacional para a apresentação de uma Proposta de Emenda Constitucional restabelecendo as eleições diretas. A proposta da emenda, que passou a ser conhecida pelo nome do deputado, vingou e teve sua votação marcada para 25 de abril de 1984.
A partir daí, a campanha ganhou as ruas, arregimentando um número crescente de partidários em todo o país, nos mais diversos setores da sociedade. Reuniram-se lideranças políticas, sindicais, eclesiásticas e estudantis.
Vários artistas, jogadores de futebol e jornalistas aderiram ao movimento, fazendo-o ganhar cada vez mais simpatizantes entre as camadas populares.
Entre as lideranças políticas de expressão nacional, merece destaque o nome do deputado federal Ulysses Guimarães (PMDB-SP), que ficou conhecido na época como o "Senhor Diretas". Além dele, também se destacaram o governador de São Paulo, Franco Montoro, o de Minas Gerais, Tancredo Neves, o do Rio de Janeiro, Leonel Brizola, e o de Pernambuco, Miguel Arraes. Ainda devem ser mencionados os nomes do então senador Fernando Henrique Cardoso (PMDB) e do presidente do Partido dos Trabalhadores, Luiz Inácio Lula da Silva.
Franco Montoro promoveu a primeira manifestação de massas da campanha: um comício na Praça da Sé em São Paulo, que reuniu cerca de 400 mil pessoas, em 25 de janeiro de 1984. A praça ficou repleta de bandeiras e camisetas amarelas, cor escolhida para simbolizar a reivindicação.
Sucederam-se manifestações em diversas outras capitais do país, dos quais sobressaíram o da Candelária, a 10 de abril, no Rio de Janeiro, e o do Anhangabaú, a 16 de abril, novamente em São Paulo.
Apesar do anseio explícito da esmagadora maioria da população brasileira, o governo militar, sob o comando do general-presidente João Figueiredo, ainda tinha poder sobre o Congresso. A emenda Dante de Oliveira, que precisava de 2/3 dos votos dos parlamentares para ser aprovada, acabou sendo rejeitada.
Votaram a seu favor 298 parlamentares; 65 foram contra e 3 se abstiveram. Porém, para não desagradar aos militares nem aos seus eleitores, 112 simplesmente não compareceram à votação. Assim, por 22 votos, os brasileiros tiveram adiado o sonho de votar para presidente da República - o que só aconteceria em 1989.
De qualquer modo, a campanha marcou a volta da politização da sociedade brasileira, reprimida durante os governos militares, bem como deu início ao movimento que veio a culminar com a eleição indireta de Tancredo Neves à presidência, em 1985. Do mesmo modo, a campanha consagrou novas lideranças políticas no país, como foram os casos de Fernando Henrique Cardoso e Lula, que chegaram a se tornar presidentes.
A MOBILIZAÇÃO POPULAR INSPIROU CHICO BUARQUE A COMPOR, AS CANÇÕES ABAIXO:
Vai Passar
Chico Buarque
Composição: Chico Buarque e Francis Hime
Vai passar nessa avenida um samba popular
Cada paralelepípedo da velha cidade essa noite vai se arrepiar
Ao lembrar que aqui passaram sambas imortais
Que aqui sangraram pelos nossos pés
Que aqui sambaram nossos ancestrais
Num tempo página infeliz da nossa história,
passagem desbotada na memória
Das nossas novas gerações
Dormia a nossa pátria mãe tão distraída
sem perceber que era subtraída
Em tenebrosas transações
Seus filhos estavam cegos pelo continente,
levavam pedras feito penitentes
Erguendo estranhas catedrais
E um dia, afinal, tinham o direito a uma alegria fugaz
Uma ofegante epidemia que se chamava carnaval,
o carnaval, o carnaval
Vai passar, palmas pra ala dos barões famintos
O bloco dos napoleões retintos
e os pigmeus do boulevard
Meu Deus, vem olhar, vem ver de perto uma cidade a cantar
A evolução da liberdade até o dia clarear
Ai que vida boa, ô lerê,
ai que vida boa, ô lará
O estandarte do sanatório geral vai passar
Ai que vida boa, ô lerê,
ai que vida boa, ô lará
Pelas Tabelas
Composição: Chico Buarque
Ando com minha cabeça já pelas tabelas
Claro que ninguém se importa com minha aflição
Quando vi todo mundo na rua de blusa amarela
Eu achei que era ela puxando o cordão
Oito horas e danço de blusa amarela
Minha cabeça talvez faça as pazes assim
Quando ouvi a cidade de noite batendo as panelas
Eu pensei que era ela voltando prá mim
Minha cabeça de noite batendo panelas
Provavelmente não deixa a cidade dormir
Quando vi um bocado de gente
Descendo as favelas
Eu achei que era o povo que vinha pedir
A cabeça de um homem que olhava as favelas
Minha cabeça rolando no maracanã
Quando vi a galera aplaudindo de pé as tabelas
Eu jurei que era ela que vinha chegando
Com minha cabeça já pelas tabelas
Claro que ninguém se importa com minha aflição
Quando vi todo mundo na rua de blusa amarela
Eu achei que era ela puxando o cordão
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