quinta-feira, 5 de junho de 2008

A REVOLTA DA CHIBATA



A REVOLTA DA CHIBATA
A Revolta da Chibata foi um importante movimento social ocorrido, no início do século XX, na cidade do Rio de Janeiro. Começou no dia 22 de novembro de 1910.
Neste período, os marinheiros brasileiros eram punidos com castigos físicos. As faltas graves eram punidas com 25 chibatadas (chicotadas). Esta situação gerou uma intensa revolta entre os marinheiros. O estopim da revolta ocorreu quando o marinheiro Marcelino Rodrigues foi castigado com 250 chibatadas, por ter ferido um colega da Marinha, dentro do encouraçado Minas Gerais. O navio de guerra estava indo para o Rio de Janeiro e a punição, que ocorreu na presença dos outros marinheiros, desencadeou a revolta.
O motim se agravou e os revoltosos chegaram a matar o comandante do navio e mais três oficiais. Já na Baia da Guanabara, os revoltosos conseguiram o apoio dos marinheiros do encouraçado São Paulo. O clima ficou tenso e perigoso.
O líder da revolta, João Cândido (conhecido como o Almirante Negro), redigiu a carta reivindicando o fim dos castigos físicos, melhorias na alimentação e anistia para todos que participaram da revolta. Caso não fossem cumpridas as reivindicações, os revoltosos ameaçavam bombardear a cidade do Rio de Janeiro (então capital do Brasil).
Diante da grave situação, o presidente Hermes da Fonseca resolveu aceitar o ultimato dos revoltosos. Porém, após os marinheiros terem entregues as armas e embarcações, o presidente solicitou a expulsão de alguns revoltosos. A insatisfação retornou e, no começo de dezembro, os marinheiros fizeram outra revolta na Ilha das Cobras. Esta segunda revolta foi fortemente reprimida pelo governo, sendo que vários marinheiros foram presos em celas subterrâneas da Fortaleza da Ilha das Cobras. Neste local, onde as condições de vida eram desumanas, alguns prisioneiros faleceram. Outros revoltosos presos foram enviados para a Amazônia, onde deveriam prestar trabalhos forçados na produção de borracha.
O líder da revolta João Cândido foi expulso da Marinha e internado como louco no Hospital de Alienados. No ano de 1912, foi absolvido das acusações junto com outros marinheiros que participaram da revolta.
Podemos considerar a Revolta da Chibata como mais uma manifestação de insatisfação ocorrida no início da República. Embora pretendessem implantar um sistema político-econômico moderno no país, os republicanos trataram os problemas sociais como “casos de polícia”. Não havia negociação ou busca de soluções com entendimento. O governo quase sempre usou a força das armas para colocar fim às revoltas, greves e outras manifestações populares. (O episódio nos faz recordar e revolta dos jangadeiros, no Ceará (1881), liderada por Chico da Matilde – O “Dragão do Mar” – que pedia o fim da escravidão.


João Cândido, “o negro que violentou a História do Brasil”, segundo comentou na época o escritor Gilberto Arnaldo, foi preso, com mais de 17 marinheiros, numa masmorra na ilha das Cobras. Ali, 15 morreram sufocados poucos dias depois. João Cândido, um dos sobreviventes, foi internado no Hospital dos Alienados, no Rio, onde os médicos negaram que ele estivesse louco. Julgado em novembro de 1912, foi absolvido, bem como todos os marinheiros participantes das revoltas.
A Revolta da Chibata não foi esquecida. Hoje é tema de bonita música popular, que fala do seu significado na história do Brasil.

O MESTRE SALA DOS MARES
Autores: João Bosco / Adir Blanc

Há muito tempo nas águas da Guanabara
O dragão do mar reapareceu
Na figura de um bravo feiticeiro
A quem a história não esqueceu
Conhecido como o navegante negro
Tinha a dignidade de um mestre-sala
E ao acenar pelo mar na alegria das regatas
Foi saudado no porto pelas mocinhas francesas
Jovens polacas e por batalhões de mulatas
Rubras cascatas
Jorravam das costas dos santos entre cantos e chibatas
Inundando o coração do pessoal do porão
Que, a exemplo do feiticeiro, gritava então
Glória aos piratas
Às mulatas, às sereias
Glória à farofaà cachaça, às baleias
Glória a todas as lutas inglórias
Que através da nossa história não esquecemos jamais
Salve o navegante negro
Que tem por monumento as pedras pisadas do cais
Mas salve
Salve o navegante negro
Que tem por monumento as pedras pisadas do cais
Mas faz muito tempo...



Não podemos nunca duvidar da nossa capacidade, de um homem ou mesmo de um grupo de pessoas. As tentativas de mudanças, ainda que isoladas, contituem uma esperança de que tais mudanças virão.
Foi nisso que confiou o humilde negro João Cândido quando acreditou que poderia mudar a sua vida e a de seus companheiros de Marinha. Ele levou adiante suas idéias, embora à custa de todo tipo de atrocidades e percebendo que sua luta poderia ser perdida perante as poderosas estruturas de seu tempo.
Não se curvou, porém. Correu os riscos e nos mostrou que a luta, mesmo que perdida no tempo, pode deixar vitórias à posteridade.

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