MÚSICA POPULAR BRASILEIRA
A historiografia da música popular brasileira considera a gravação da canção “Pelo telefone”, de autoria de Ernesto dos Santos, o Donga (1889 / 1974 – Rio de Janeiro), realizada em janeiro de 1917, o primeiro registro fonográfico de um samba. O lançamento do disco, de acordo com o pesquisador Flávio Silva, teria ocorrido por volta de 20 de janeiro daquele ano e fez sucesso no carnaval no mês seguinte, consagrando esse evento como um marco de nossa história cultural. Porém, a existência dos registros fonográficos no país é anterior e mais diversificada que esse único evento. Já em 1898, o empresário Frederico Figner, proprietário da Casa Edison, após período de atividade exclusiva de importação e comercialização de fonógrafos e cilindros, começou a gravar e comercializar no Brasil seus próprios cilindros de cera. Contendo sons, discursos e, sobretudo músicas populares, esses cilindros, tocados publicamente em fonógrafos, tinham uma aura de magia e criavam extraordinária curiosidade na população. Embora o aspecto mágico tenha gradativamente se perdido, o aparecimento no início do século xx de registros sonoros em suporte na forma de disco, simplificou, consolidou e ampliou esse grande interesse e mercado. Foi nesse contexto que se gravou o lundu de Xisto Bahia “Isto é bom”, também interpretado por Baiano, considerado o primeiro registro fonográfico gravado em disco no Brasil. A gravação da matriz original ocorreu em janeiro de 1902, no Rio de Janeiro, sob responsabilidade da Casa Edison.
Apesar dessa trajetória, há uma série de fatores apresentados pela historiografia para justificar a seleção de “Pelo telefone” como um marco da moderna música popular urbana. O primeiro deles está relacionado com a intenção propositada do autor de registrá-la como um samba e a subsequente indicação do gênero no selo do disco como “samba carnavalesco”, fato raro no início do século xx, já que o samba urbano ainda não era um gênero muito bem definido e pouco atraente do ponto de vista comercial.
Além disso, a atitude de Donga, ao registrar a partitura da canção na Biblioteca Nacional, ultrapassava os tradicionais limites da criação coletiva e anônima da música popular da época. Ela já revelava uma postura de “compositor moderno”, que identifica a autoria individual para assegurar seus direitos sobre a composição e obter prestígio pessoal e retorno financeiro. A partitura manuscrita para piano de “Pelo Telefone” foi registrada na Biblioteca Nacional em 27 de novembro de 1916, e a primeira editada para divulgação comercial surgiu em 16 de dezembro de 1916. Em janeiro de 1917, foram realizadas três gravações pela Casa Edison, baseadas nestes registros públicos. A primeira e a terceira foram apenas instrumentais, realizadas, respectivamente, pela Banda Odeon e a Banda do Primeiro Batalhão da Polícia da Bahia. A segunda gravação, interpretada por Baiano e acompanhada somente de cavaquinho e violão, diferentemente das outras duas,atingiu grande repercussão no carnaval daquele ano. Esse seria outro elemento importante que críticos e historiadores da música popular destacam: o sucesso de público que a canção obteve, transformou-a em uma atraente mercadoria comercial.
Desse modo, na canção “Pelo telefone” estariam decantados os elementos da moderna música popular que somente apareceriam de modo evidente na virada dos anos 1920/1930: o gênero samba urbano composto por autor conhecido, gravado em fonogramas, com objetivo comercial e que obtém divulgação “de massa”. Portanto, essa canção teria dado início a uma nova fase da produção musical no país e, por isso, tornou-se uma referência histórica.
PELO TELEFONE
Autoria: Donga (Ernesto Joaquim Maria dos Santos) / Mauro de Almeida
O chefe da folia pelo telefone manda me avisar
que com alegria não se questione para se brincar
O chefe da folia pelo telefone manda me avisar
que com alegria não se questione para se brincar
Ai, ai,ai, deixa as mágoas para traz, o rapaz
Ai, ai,ai, fica triste se és capaz e verás
Ai, ai,ai, deixa as mágoas para traz, o rapaz
Ai, ai,ai, fica triste se és capaz e verás
Tomara que tu apanhes
Não tornes a fazer isso,
Tirar amores dos outros
Depois fazer seu feitiço (Bís)
Olha a rolinha, sinhô, sinhô
Se embaraçou sinhô, sinhô
Caiu no laço sinhô, sinhô
do nosso amor sinhô, sinhô
Porque este samba sinhô, sinhô
É de arrepiar sinhô, sinhô
Põe perna bamba sinhô, sinhô
Mas faz gozar
O chefe da polícia pelo telefone, manda me avisar
Que na carioca tem uma roleta , para se jogar
O chefe da polícia pelo telefone, manda me avisar
Que na carioca tem uma roleta , para se jogar...
quarta-feira, 3 de junho de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário