FREI TITO DE ALENCAR LIMA
No dia 10 de agosto de 1974, o corpo do frade cearense Tito de Alencar Lima foi encontrado nas proximidades de Arbresle, sul da França, pendurado por uma corda nos galhos de um álamo. Frade dominicano, cearense, preso injustamente, torturado sem piedade, atormentado até a morte pela voz dos torturadores. Trinta e quatro anos depois, a cena trágica da sua morte é suficientemente forte para que não seja esquecida. Mas o Brasil precisa mesmo, mais que nunca, relembrar a energia e lucidez da juventude de Frei Tito, que acreditava no poder da mobilização para mudar os rumos do País.
Tito de Alencar Lima nasceu no dia 14 de setembro de 1945, em Fortaleza. De família humilde, com muito esforço ingressou no respeitável Liceu do Ceará, passando a militar na JEC (Juventude Estudantil Católica). Pessoa de Liderança firme, bem-humorado e carismático, logo ganhou respeito no Movimento Estudantil (ME) Envolvido no compromisso político através do evangelho, assumiu a direção da JEC em 1963 e foi morar em Recife. Em outubro de 1968, Frei Tito foi preso por estar participando de um congresso da clandestina UNE (União Nacional dos Estudantes) junto com estudantes e outros religiosos pela polícia e fichado pelo DOPS em Ibiúna. Foi fichado pela polícia e tornou-se alvo de perseguição da repressão militar, onde iniciou-se o seu martírio.
No início de 1970, Frei Tito foi torturado nos porões da “Operação Bandeirantes”. Cheio de hematomas, todo dolorido, sangrado, em desespero, tentou o suicídio, rompendo com uma gilete a artéria do braço. Foi ironicamente salvo pelos militares que temiam a repercussão negativa da morte do religioso. Na prisão, ele escreveu sobre a sua tortura e o documento correu pelo mundo e se transformou em símbolo de luta pelos direitos humanos. Em 71 foi deportado para o Chile e, sob a ameaça de novamente ser preso, fugiu para a Itália. Em Roma, não encontrou apoio da Igreja Católica, por ser considerado um “frade terrorista”. De Roma foi para Paris, onde encontrou o tão esperado refúgio, recebendo apoio dos dominicanos.
Traumatizado pela tortura que sofreu, Frei Tito submeteu-se a um tratamento psiquiátrico. As torturas deixaram graves seqüelas psíquicas no religioso. Imaginava o rosto de Fleury (Sergio Paranhos Fleury, delegado que comandou a repressão) em todos os lugares. Vivia quebrado. Deprimido, em agosto de 1974 comete suicídio, enforcando-se numa árvore.
A causa da morte – suspeita de suicídio – tornou-se um enigma. Foi enterrado no cemitério dominicano Sainte Maire de La Tourrete, em L´Abresle.
Apenas em 25 de março de 1983 seus restos mortais foram transladados para Fortaleza e para serem enterrados no Cemitério São João Batista. Antes de chegar a Fortaleza, passou por São Paulo, onde foi realizada uma celebração litúrgica em memória dos mortos pela ditadura de 1964: o próprio Frei Tito e Alexandre Vannuchi. Cercado por bispos e numeroso grupo de sacerdotes, D. Paulo Evaristo Arns repudiou a tragédia da tortura em missa de corpo presente acompanhada por mais de 4 mil pessoas.
Finalmente descansaria na terra natal, junto ao povo e país que tanto amava. Sua luta e sofrimentos não foram em vão. Dois anos depois, a ditadura cairia
POEMA
Quando secar o rio da minha infância.
No dia 10 de agosto de 1974, o corpo do frade cearense Tito de Alencar Lima foi encontrado nas proximidades de Arbresle, sul da França, pendurado por uma corda nos galhos de um álamo. Frade dominicano, cearense, preso injustamente, torturado sem piedade, atormentado até a morte pela voz dos torturadores. Trinta e quatro anos depois, a cena trágica da sua morte é suficientemente forte para que não seja esquecida. Mas o Brasil precisa mesmo, mais que nunca, relembrar a energia e lucidez da juventude de Frei Tito, que acreditava no poder da mobilização para mudar os rumos do País.
Tito de Alencar Lima nasceu no dia 14 de setembro de 1945, em Fortaleza. De família humilde, com muito esforço ingressou no respeitável Liceu do Ceará, passando a militar na JEC (Juventude Estudantil Católica). Pessoa de Liderança firme, bem-humorado e carismático, logo ganhou respeito no Movimento Estudantil (ME) Envolvido no compromisso político através do evangelho, assumiu a direção da JEC em 1963 e foi morar em Recife. Em outubro de 1968, Frei Tito foi preso por estar participando de um congresso da clandestina UNE (União Nacional dos Estudantes) junto com estudantes e outros religiosos pela polícia e fichado pelo DOPS em Ibiúna. Foi fichado pela polícia e tornou-se alvo de perseguição da repressão militar, onde iniciou-se o seu martírio.
No início de 1970, Frei Tito foi torturado nos porões da “Operação Bandeirantes”. Cheio de hematomas, todo dolorido, sangrado, em desespero, tentou o suicídio, rompendo com uma gilete a artéria do braço. Foi ironicamente salvo pelos militares que temiam a repercussão negativa da morte do religioso. Na prisão, ele escreveu sobre a sua tortura e o documento correu pelo mundo e se transformou em símbolo de luta pelos direitos humanos. Em 71 foi deportado para o Chile e, sob a ameaça de novamente ser preso, fugiu para a Itália. Em Roma, não encontrou apoio da Igreja Católica, por ser considerado um “frade terrorista”. De Roma foi para Paris, onde encontrou o tão esperado refúgio, recebendo apoio dos dominicanos.
Traumatizado pela tortura que sofreu, Frei Tito submeteu-se a um tratamento psiquiátrico. As torturas deixaram graves seqüelas psíquicas no religioso. Imaginava o rosto de Fleury (Sergio Paranhos Fleury, delegado que comandou a repressão) em todos os lugares. Vivia quebrado. Deprimido, em agosto de 1974 comete suicídio, enforcando-se numa árvore.
A causa da morte – suspeita de suicídio – tornou-se um enigma. Foi enterrado no cemitério dominicano Sainte Maire de La Tourrete, em L´Abresle.
Apenas em 25 de março de 1983 seus restos mortais foram transladados para Fortaleza e para serem enterrados no Cemitério São João Batista. Antes de chegar a Fortaleza, passou por São Paulo, onde foi realizada uma celebração litúrgica em memória dos mortos pela ditadura de 1964: o próprio Frei Tito e Alexandre Vannuchi. Cercado por bispos e numeroso grupo de sacerdotes, D. Paulo Evaristo Arns repudiou a tragédia da tortura em missa de corpo presente acompanhada por mais de 4 mil pessoas.
Finalmente descansaria na terra natal, junto ao povo e país que tanto amava. Sua luta e sofrimentos não foram em vão. Dois anos depois, a ditadura cairia
POEMA
Quando secar o rio da minha infância.
Quando secar o rio da minha infância
secará toda dor.Quando os regatos límpidos de meu ser secarem
minh'alma perderá sua força.
Buscarei, então,
pastagens distantes- lá onde o ódio não tem teto para repousar.
Ali erguerei uma tenda junto aos bosques.
Todas as tardes me deitarei na relvae nos dias silenciosos,
farei minha oração.
Meu eterno canto de amor:
expressão pura da minha mais profunda angústia.
Nos dias primaverís, colherei florespara meu jardim da saudade.
Assim, externarei a lembrança de um passado sombrio.
Paris, 12 de outubro de 1972
Frei Tito
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