sexta-feira, 6 de junho de 2008

A CULTURA NOS ANOS 60 E 70



A CULTURA NOS ANOS 60 E 70
Tomates e vaias, ovos e uivos. Dissonância no palco, discordância na platéia. A platéia está de costas para o palco. Os artistas no palco estão de costas para a platéia. Só o cantor, um poeta franzino, abre o peito e abre a voz: “Mas é isso a juventude que quer tomar o poder? Vocês tem coragem de aplaudir este ano uma música que não teriam coragem de aplaudir no ano passado. São a mesma juventude que vai sempre matar amanhã o velhote inimigo que morreu ontem. Vocês não estão entendendo nada, nada, absolutamente nada...” As vaias viram urros e os urros se tornam ofensas. O poeta segue berrando, sob os “riffs” lancinantes da guitarra: “Vocês estão por fora. Vocês não dão para entender. Mas que juventude é essa? Vocês são igual sabem a quem? Sabem a quem? Aqueles que foram na “Roda Viva” e espancaram os atores. Não diferem em nada deles”. Era 12 de setembro de 1968 e acompanhados pelos Mutantes, Caetano Veloso estava tentando apresentar a canção “É proibido proibir”. A música inscrita no 3º Festival Internacional da Canção, fora inspirada pelos grafites que cobriram os muros de Paris na rebelião estudantil de maio de 68. Ironicamente, a canção prenunciava o início da época em que, no Brasil, se tornaria permitido proibir.
Exatos três meses após aquela apresentação de Caetano e dos Mutantes no teatro da Universidade Católica, em São Paulo, o general Costa e Silva decretou o Al – 5, o ato que permitiria à censura submeter a cultura nacional a uma espécie de lavagem cerebral. Embora atingisse a literatura, o cinema, o teatro e a imprensa, a censura seria especialmente dura com a música. Por quê? Por que desde o sucesso mundial da bossa nova, no início dos anos 60, a música se tornara a manifestação cultural mais vibrante do Brasil. Com o advento da Jovem Guarda, por volta de 1965, a música entraria na era da cultura de massa e logo se associaria à televisão – tanto que não apenas a rebeldia “inocente” do iê-iê-iê de Roberto Carlos (preocupada em “denunciar” que era “proibido fumar” – maconha, presumivelmente) tinha seu próprio programa de TV como também eram as grandes redes de televisão que promoviam festivais como o FIC. Neles, explodiria o choque entre a “música de protesto”, de veia nacionalista, e a música pop, americanizada e supostamente “alienada”.
Embora em breve os militares e seus censores se revelassem bem menos suscetíveis a tais divergências estéticas – podando tanto as canções “nacionalistas” quanto os “exotismos estrangeiros” -, o que levou o público a vaiar Caetano naquela noite foi justamente o confronto entre a juventude “engajada” e de esquerda e a vanguarda artística que Caetano e Gilberto Gil (que logo subiria ao palco para se solidarizar com o amigo e conterrâneo) representavam. Qualquer semelhança entre esse “happening” que saiu pela culatra e a primeira noite da Semana de Arte Moderna em 1922, deixa de ser mera coincidência quando se sabe que, pouco antes, os dois baianos tinham criado o movimento Tropicalista – releitura pop e hippie da Antropofagia de “Marioswald” de Andrade. Baseados em tudo que acontecia de novo e de jovem em um país ainda fervilhante – o Cinema Novo, os experimentalismos do Teatro de Arena e Teatro Opinião, os ecos da bossa nova, a “rebeldia” pop da Jovem Guarda, a cultura televisiva, Chacrinha e as telenovelas, a


poesia concretista, a pintura de Hélio Oiticica -, Caetano e Gil fermentaram a geléia geral brasileira, acima e além da caretice. “Eu e Gil tivemos coragem de entrar em todas as estruturas e sair de todas”, continuava Caetano em seu discurso irado, enquanto a massa ululava e os Mutantes faziam gemer as guitarras. “ E vocês?
Se vocês forem em política como são em estética, estamos feitos. Me desclassifiquem junto com Gil (...) Chega!”
Duas semanas depois de Caetano se autodesclassificar, os Mutantes, com roupas escandalosas, e Rita Lee de noiva se apresentaram nas finais do mesmo FIC, no Rio de Janeiro. Mas, então, nem foram vaiados: o povo guardou todos os apupos para “Sabiá”, de Chico Buarque e Tom Jobim, que venceu “Caminhando”, de Geraldo Vandré, em novo desdobramento do choque entre engajamento e lirismo. A TV mostrou tudo, como continuaria fazendo ao longo das décadas que vieram a seguir. Menos de um ano depois, Caetano e Gil(que tinham sido presos pelo governo militar) e Chico Buarque (o mais censurado dos compositores brasileiros) partiam para o exílio na Europa.A bossa nova e o Cinema Novo já tinham ficado velhos, e o Tropicalismo daria os últimos suspiros. Depois deles, o dilúvio de censura. (FSP)

♫ É proibido proibir ♫
(Caetano Veloso)
A mãe da virgem diz que não.
E o anúncio da televisão.
E estava escrito no portão.
E o maestro ergueu o dedo.
E além da porta há o porteiro, sim.
Eu digo não.
Eu digo não ao não.
Eu digo.
É proibido proibir.
É proibido proibir.
É proibido proibir.
É proibido proibir.
Me dê um beijo, meu amor
Eles estão nos esperando
Os automóveis ardem em chamas
Derrubar as prateleiras
As estantes, as estátuas
As vidraças, louças, livros, sim
Eu digo sim
Eu digo não ao não
Eu digo
É proibido proibir
É proibido proibir
É proibido proibir
É proibido proibir

quinta-feira, 5 de junho de 2008

A REVOLTA DA CHIBATA



A REVOLTA DA CHIBATA
A Revolta da Chibata foi um importante movimento social ocorrido, no início do século XX, na cidade do Rio de Janeiro. Começou no dia 22 de novembro de 1910.
Neste período, os marinheiros brasileiros eram punidos com castigos físicos. As faltas graves eram punidas com 25 chibatadas (chicotadas). Esta situação gerou uma intensa revolta entre os marinheiros. O estopim da revolta ocorreu quando o marinheiro Marcelino Rodrigues foi castigado com 250 chibatadas, por ter ferido um colega da Marinha, dentro do encouraçado Minas Gerais. O navio de guerra estava indo para o Rio de Janeiro e a punição, que ocorreu na presença dos outros marinheiros, desencadeou a revolta.
O motim se agravou e os revoltosos chegaram a matar o comandante do navio e mais três oficiais. Já na Baia da Guanabara, os revoltosos conseguiram o apoio dos marinheiros do encouraçado São Paulo. O clima ficou tenso e perigoso.
O líder da revolta, João Cândido (conhecido como o Almirante Negro), redigiu a carta reivindicando o fim dos castigos físicos, melhorias na alimentação e anistia para todos que participaram da revolta. Caso não fossem cumpridas as reivindicações, os revoltosos ameaçavam bombardear a cidade do Rio de Janeiro (então capital do Brasil).
Diante da grave situação, o presidente Hermes da Fonseca resolveu aceitar o ultimato dos revoltosos. Porém, após os marinheiros terem entregues as armas e embarcações, o presidente solicitou a expulsão de alguns revoltosos. A insatisfação retornou e, no começo de dezembro, os marinheiros fizeram outra revolta na Ilha das Cobras. Esta segunda revolta foi fortemente reprimida pelo governo, sendo que vários marinheiros foram presos em celas subterrâneas da Fortaleza da Ilha das Cobras. Neste local, onde as condições de vida eram desumanas, alguns prisioneiros faleceram. Outros revoltosos presos foram enviados para a Amazônia, onde deveriam prestar trabalhos forçados na produção de borracha.
O líder da revolta João Cândido foi expulso da Marinha e internado como louco no Hospital de Alienados. No ano de 1912, foi absolvido das acusações junto com outros marinheiros que participaram da revolta.
Podemos considerar a Revolta da Chibata como mais uma manifestação de insatisfação ocorrida no início da República. Embora pretendessem implantar um sistema político-econômico moderno no país, os republicanos trataram os problemas sociais como “casos de polícia”. Não havia negociação ou busca de soluções com entendimento. O governo quase sempre usou a força das armas para colocar fim às revoltas, greves e outras manifestações populares. (O episódio nos faz recordar e revolta dos jangadeiros, no Ceará (1881), liderada por Chico da Matilde – O “Dragão do Mar” – que pedia o fim da escravidão.


João Cândido, “o negro que violentou a História do Brasil”, segundo comentou na época o escritor Gilberto Arnaldo, foi preso, com mais de 17 marinheiros, numa masmorra na ilha das Cobras. Ali, 15 morreram sufocados poucos dias depois. João Cândido, um dos sobreviventes, foi internado no Hospital dos Alienados, no Rio, onde os médicos negaram que ele estivesse louco. Julgado em novembro de 1912, foi absolvido, bem como todos os marinheiros participantes das revoltas.
A Revolta da Chibata não foi esquecida. Hoje é tema de bonita música popular, que fala do seu significado na história do Brasil.

O MESTRE SALA DOS MARES
Autores: João Bosco / Adir Blanc

Há muito tempo nas águas da Guanabara
O dragão do mar reapareceu
Na figura de um bravo feiticeiro
A quem a história não esqueceu
Conhecido como o navegante negro
Tinha a dignidade de um mestre-sala
E ao acenar pelo mar na alegria das regatas
Foi saudado no porto pelas mocinhas francesas
Jovens polacas e por batalhões de mulatas
Rubras cascatas
Jorravam das costas dos santos entre cantos e chibatas
Inundando o coração do pessoal do porão
Que, a exemplo do feiticeiro, gritava então
Glória aos piratas
Às mulatas, às sereias
Glória à farofaà cachaça, às baleias
Glória a todas as lutas inglórias
Que através da nossa história não esquecemos jamais
Salve o navegante negro
Que tem por monumento as pedras pisadas do cais
Mas salve
Salve o navegante negro
Que tem por monumento as pedras pisadas do cais
Mas faz muito tempo...



Não podemos nunca duvidar da nossa capacidade, de um homem ou mesmo de um grupo de pessoas. As tentativas de mudanças, ainda que isoladas, contituem uma esperança de que tais mudanças virão.
Foi nisso que confiou o humilde negro João Cândido quando acreditou que poderia mudar a sua vida e a de seus companheiros de Marinha. Ele levou adiante suas idéias, embora à custa de todo tipo de atrocidades e percebendo que sua luta poderia ser perdida perante as poderosas estruturas de seu tempo.
Não se curvou, porém. Correu os riscos e nos mostrou que a luta, mesmo que perdida no tempo, pode deixar vitórias à posteridade.

CALDEIRÃO


CALDEIRÃO
O Caldeirão foi uma comunidade messiânica, coletiva e igualitária, surgida no Cariri sob a liderança do beato José Lourenço e destruída em 1937 pelo governo Menezes Pimentel com apoio da Igreja e dos latifundiários.
José Lourenço, paraibano, negro, analfabeto, chegou a Juazeiro do Norte em 1890, sendo aconselhado pelo Padre Cícero a estabelecer-se na região e a trabalhar com algumas famílias de romeiros. Assim arrendou um lote de terra no sítio Baixa Danta.
Em 1914, Lourenço teve as terras invadidas na Sedição de Juazeiro. Nos anos de 1920 envolveu-se na questão do“boi santo” e foi obrigado a deixar o sítio Baixa Danta. Provavelmente no ano de 1926, Padre Cícero acomodou Lourenço e os seguidores no sítio Caldeirão de sua propriedade.
No Caldeirão criou-se uma comunidade semelhante a de Canudos, baseada na religião onde o beato e sua comunidade passam a trabalhar dia e noite. Eles transformam o sítio Caldeirão em um oásis de fartura onde não circulava dinheiro e tudo era de todos. Na seca de 32, por exemplo, quando muitos nordestinos morreram de fome, o Caldeirão alimentou milhares de famílias. Em 1932, a fazenda abrigou retirantes da seca. Nesse ano chegou a comunidade o rio grandense Severino Tavares.
O progresso do Caldeirão assustou a elite. A inveja crescia na mesma proporção que a comunidade aumentava. Os políticos e donos de terras odiavam aquela concentração de trabalhadores livres e fustigavam a opinião pública, fazendo comparações com Canudos. Como o sitio, após a morte de Padre Cícero, ficou em herança para os padres salesianos, as classes dominantes passaram a difamar a comunidade de Lourenço e a igreja teve um álibi perfeito para defenestrar o surgimento de uma nova liderança espiritual, um novo Padre Cícero, uma espécie de comunhão no poder a partir do povo. Em setembro de 1936, os moradores foram expulsos dali pela polícia.
Lourenço e sua gente instalaram-se depois na serra do Araripe e reorganizaram a comunidade. Parte dos sertanejos, liderados por Severino Tavares, queriam vingança e fazendo uma emboscada, mataram alguns policiais.
Enviou-se então, grande contingente policial para a serra do Araripe, massacrando os camponeses em novembro de 1937; mais de mil pereceram, Severino Tavares escapou, sendo morto na Bahia em 1938. “Zé Lourenço”, faleceu em 1946, no Estado de Pernambuco.
O que aconteceu no Caldeirão encerra um ciclo de domínio pessoal e absoluto do Padre Cícero Romão Batista que reinou no Cariri com extensão à capital cearense. Vale salientar, que o prestígio do patriarca do Cariri, teve início a partir do fenômeno, considerado por muitos como milagre, em 1889, quando a hóstia consagrada transformou-se em sangue na boca da Beata Maria de Araújo ao receber a comunhão do Padre Cícero. (A.F.)


COMPOSIÇÕES

“Santa Cruz do Deserto” – Zabumbeiros Cariris
Composição: Amélia Coelho / Beto Lemos
O beato Zé Lourenço
Seguidor do Padre Cícero
Fez seu sonho coletivo
Com coragem e devoção
Tudo era de todos
Na fazenda caldeirão
O beato sofredor
O beato penitente
O beato resistente
O beato acolhedor
Que acolheu os retirantes
De terras distantes
Fugidos da dor
Ê milagre do boi
E o que aconteceu depois
Abriu as portas prá perseguição
Ê do sonho a devastação
O que era gritos de seca
Virou canto e louvação
E na poeira da estrada
Gente assassinada
Me aperta o coração
Uma cruel covardia
Recordo aquele dia
Foi grande a aflição
Ê milagre do boi

E o que aconteceu depois
Abriu as portas prá perseguição
Ê do sonho a devastação
Ouve-se um grito de morte
Acabou-se o caldeirão.

“O Beato Zé Lourenço”(Patativa do Assaré)

Sempre digo, julgo e penso
Que o Beato Zé Lourenço
Foi um líder brasileiro
Que fez os mesmos estudos
Do grande herói de Canudos
Nosso Antônio Conselheiro

Tiveram o mesmo sonho
De um horizonte risonho
Dentro da mesma intenção,
Criando um sistema novo
Para defender o povo
Da maldita escravidão.

Em Caldeirão trabalhava
E boa assistência dava
A todos os operários,
Com sua boa gente
Lutava pacificamente
Contra os latifundiários.

Naquele tempo passado
Canudos foi derrotado
Sem dó e sem compaixão,
Com a mesma atrocidade
E maior facilidade
Destruíram Caldeirão.

Por ordem dos militares
Avião cruzou os ares
Com raiva, ódio e com guerra,
Na grande carnificina
Contra a justiça divina
O sangue molhou a terra.

Porém, por vários caminhos,
Pisando sobre os espinhos,
Com um sacrifício imenso,
Seguindo o mesmo roteiro
Sempre haverá Conselheiro
E Beato Zé Lourenço.

(Composta para o filme “O Caldeirão da Santa Cruz do Deserto”, de Rosemberg Cariry)

A ESCRAVIDÃO E A ABOLIÇÃO



A ESCRAVIDÃO E A ABOLIÇÃO

A escravidão existiu desde a Antigüidade, entre vários povos, sendo ampliada no final do século III, devido à crise da Agricultura e outras necessidades de mão-de-obra.
No fim da Idade Média (séculos XII e XIV), o tráfico de escravos progrediu consideravelmente nos países mediterrâneos, principalmente, nas colônias européias da América.
No Brasil recém-descoberto, após a fracassada escravidão dos ameríndios, processou-se a busca dos africanos, cuja mão-de-obra se ajustava à Agricultura e o regime do trabalho servil. As primeiras chegadas de negros se deram por volta de 1540. Em 1542, o donatário de Pernambuco solicitou autorização para adquirir, por conta própria, escravos da Guiné, sob a alegação de não poder arcar com a empresa açucareira e com o soldo dos empregados. Em 1559, a Corte decidiu permitir o ingresso de escravos negros no Brasil; cada senhor de engenho poderia resgatar 120 escravos do Congo.
A corrente negreira aumentou no século XVIII, só se detendo em 1850, devido, principalmente, à pressão inglesa. A população negra aumentou tanto no País que, entre 1823 e 1850, um terço dos habitantes era constituído de escravos.
Mas, por esta época, a escravidão já ia terminando em quase todos os lugares. A partir de 1870, o Brasil era o único país do Ocidente em que ainda perdurava. “A morosidade de seu término se devia, principalmente, à representação legislativa, à personalidade do Imperador e à estrutura da sociedade brasileira.”
O começo do fim da escravatura no Brasil se deu com a lei Eusébio de Queirós (promulgada a 4 de setembro de 1850), estancando o tráfico negreiro. A segunda fase veio em 1871, com a lei do ventre livre. Ficava, desta forma, pelo menos teoricamente, extinta a escravidão no Brasil pelo estancamento das fontes: importação e nascimento.
Gente de peso, como Joaquim Nabuco e Rui Barbosa, lançava-se de corpo e alma, à campanha abolicionista, que engrossava por toda a parte. Em 1885, a lei Saraiva emancipava os escravos com mais de 65 anos, o que já libertava, de imediato, 120.000 negros.
Clubes abolicionistas foram criados e multiplicados pelo País, articulados, no Rio de Janeiro, pela Confederação Abolicionista. Alguns estados já começavam a abolir a escravidão, como o Ceará e o Amazonas, em 1884, seguidos de três municípios do Rio Grande do Sul. Em vários lugares, os escravos fugidos recebiam ajuda do povo ou deixavam de ser capturados pela polícia.
Os senhores de terras já iam se acostumando a contratar mão-de-obra não escrava; basta lembrar que, por volta de 1880, o número de trabalhadores livres de muitas fazendas superava ao de escravos, cuja aquisição não mais compensava.
Porém, a situação se complicava cada vez mais para os escravistas, até que, em 13 de maio de 1888, a Princesa Isabel assinou a célebre lei nº 3.353 – Lei Áurea – do seguinte teor:”Artigo 1º; É declarada extinta a escravidão no Brasil, Artigo 2º; Revogam-se as disposições em contrário”.
(Do livro: “Estudos Brasileiros”, MC Ferreira)

COMPOSIÇÕES

“A Mão da Limpeza”
Composição: Gilberto Gil / Chico Buarque

O branco inventou que o negro
Quando não suja na entrada
Vai sujar na saída, ê
Imagina só
Vai sujar na saída, ê
Imagina só
Que mentira danada, ê
Na verdade a mão escrava
Passava a vida limpando
O que o branco sujava, ê
Imagina só
O que o branco sujava, ê
Imagina só
O que o negro penava, ê
Mesmo depois de abolida a escravidão
Negra é a mão
De quem faz a limpeza
Lavando a roupa encardida, esfregando o chão
Negra é a mão
É a mão da pureza
Negra é a vida consumida ao pé do fogão
Negra é a mão
Nos preparando a mesa
Limpando as manchas do mundo com água e sabão
Negra é a mão
De imaculada nobreza
Na verdade a mão escrava
Passava a vida limpando
O que o branco sujava, ê
Imagina só
O que o branco sujava, ê
Imagina só
Eta branco sujão

“13 de Maio”Composição: Caetano Veloso
Dia 13 de maio em Santo Amaro
Na Praça do Mercado
Os pretos celebravam (Talvez hoje inda o façam)
O fim da escravidão
Da escravidão
O fim da escravidão
Tanta pindoba!
Lembro do aluá
Lembro da maniçoba
Foguetes no ar
Pra saudar Isabel
Ô Isabé
Pra saudar Isabé

CATULO DA PAIXÃO CEARENSE


CATULO DA PAIXÃO CEARENSE
Catulo da Paixão Cearense foi um dos poucos, talvez o único, poeta popular no Brasil que, em vida, recebeu todas as glórias, todas as honras e uma adoração popular tão grande. Isso porque usou e abusou de toda a sonoridade que o sotaque nordestino lhe proporcionou, soube colocar em versos simples onde era o lugar de por versos simples. Tinha faro. Sabia ouvir, como ninguém mais, o rumor da terra.
O cancioneiro de Catulo, com letras que exprimem a ingenuidade e pureza do caboclo, cativou a sensibilidade do povo e levou Mário de Andrade a classificar o autor como "o maior criador de imagens da poesia brasileira". Catulo da Paixão Cearense nasceu em São Luís MA, em data que suscita dúvidas: alguns pesquisadores indicam 8 de outubro de 1883, enquanto outros, como Mozart Araújo, afirmam ser 31 de janeiro de 1888. Morreu no Rio, em 10 de maio de 1946. Aos dez anos foi com a família para o sertão do Ceará. Em 1880, com os pais e dois irmãos, mudou-se para o Rio de Janeiro, indo residir na Rua São Clemente, 37, onde o pai se estabeleceu como relojoeiro.Freqüentou repúblicas de estudantes e conheceu o flautista Viriato, Anacleto de Medeiros, Quincas Laranjeiras, o cantor Cadete e outros chorões da época, além de um estudante de medicina que o iniciou no violão. Nessa época, tocou flauta. Com a morte dos pais no final da década de 1880, trabalhou na administração do cais do Porto como contínuo e depois como estivador.
Matriculou-se no Colégio Teles de Meneses, onde estudou português, matemática e francês, chegando a traduzir poetas famosos, como Alphonse de Lamartine (1790-1869) e outros. Fundou um colégio no bairro da Piedade, passando a lecionar línguas. Integrado nos meios boêmios da cidade, acercou-se do livreiro Pedro da Silva Quaresma, proprietário da Livraria do Povo, na Rua São José, 65-67, que passou a editar em folhetos de cordel o repertório mais em voga de modinhas, lundus e cançonetas da época. Para essa livraria organizou coletâneas, entre estas O Cantor Fluminense, O Cancioneiro Popular, logo seguidas de suas próprias obras, como O Cantor fluminense, Lira dos salões, Novos cantares, Lira brasileira, Canções da madrugada, Trovas e canções, Choros ao violão. É o responsável também pela reabilitação do violão nos salões da alta sociedade.
Poeta antes de tudo, mas com bem timbrada voz de barítono, celebrizou-se pela dicção impecável com que cantava os poemas que adaptava à melodia de obras dos mais famosos compositores populares da época. Através de gravações feitas por Mário Pinheiro, Eduardo das Neves, Cadete, Vicente Celestino e outros cantores, as modinhas com seus versos espalharam-se pelo país inteiro e realizaram, por assim dizer a consagração definitiva do poeta. Nos livros editados por Quaresma & Cia., encontram-se, com a indicação do nome dos autores das músicas, dezenas de poemas de sua autoria, que se converteram em autênticos sucessos nacionais. Citem-se, ainda, as toadas que lhe foram transmitidas por João Pernambuco como seu parceiro, estilizou e pôs letra em canções que se transformaram em grandes sucessos, como Caboca de Caxangá, Ontem ao luar e Luar do sertão, esta uma das mais célebres canções populares do Brasil. Publicou as obras, muitas vezes reeditadas, Meu sertão, Rio de Janeiro, 1918; Sertão em flor, Rio de Janeiro, 1919; Poemas bravios, Rio de Janeiro, 1921; Mata iluminada, Rio de Janeiro, s.d.; Meu Brasil, Rio de Janeiro, 1928; Um boêmio no céu, Rio de Janeiro, s.d.; Alma do sertão, Rio de Janeiro, 1928.
Na enciclopédia Abril de MPB, consta que Catulo da Paixão Cearense era conhecido pelos seus "recitais e audições que dava, pelas serestas que fazia naquele fim de século marcado por tantos acontecimentos: a Proclamação da República, a revolta da Armada, as crises dos governos Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto". Com o começo das gravações mecânicas, o novo século aumentaria sua fama.

COMPOSIÇÕES

“Luar do Sertão”
Composição: Catulo da Paixão Cearense / João Pernambuco
Não há, ó gente, oh não

Luar como este do sertão...
Oh que saudade do luar da minha terra
Lá na serra branquejando
Folhas secas pelo chão
Esse luar cá da cidade tão escuro
Não tem aquela saudade
Do luar lá do sertão
Se a lua nasce por delas da verde mata
Mais porem um sol de prata prateando a solidão
A gente pega na viola que ponteia
E a canção é a lua cheia
A nos nascer do coração
Se Deus me ouvisse
Com amor e caridade
Me faria essa vontade
O ideal do coração:Era que a morte
A descontar me surpreendesse
E eu morresse numa noite
De luar do meu sertão

“Ontem ao luar”
Composição: Catulo da Paixão Cearense e Pedro Alcântara
Ontem, ao luar,nós dois em plena solidão
Tu me perguntaste o que era a dor de uma paixão.
Nada respondi, calmo assim fiquei
Mas, fitando o azul do azul do céu
A lua azul eu te mostrei
Mostrando-a ti, dos olhos meus correr senti
Uma nívea lágrima e, assim, te respondi
Fiquei a sorrir por ter o prazer
De ver a lágrima nos olhos a sofrer
A dor da paixão não tem explicação
Como definir o que eu só sei sentir
É mister sofrer para se saber
O que no peito o coração não quer dizer
Pergunta ao luar, travesso e tão taful
De noite a chorar na onda toda azul
Pergunta, ao luar,do mar à canção
Qual o mistério que há na dor de uma paixão
Se tu desejas saber o que é o amor
E sentir o seu calor
O amaríssimo travor do seu dulçor
Sobe um monte á beira mar, ao luar
Ouve a onda sobre a arei-a a lacrimar
Ouve o silêncio a falar na solidão
De um calado coração
A penar, a derramar os prantos seus
Ouve o choro perenal
A dor saliente, universal
E a dor maior, que é a dor de Deus

DIA 1º DE MAIO (DIA DO TRABALHO)



Em 1886 realizou-se uma manifestação de trabalhadores nas ruas de Chicago nos Estados Unidos da América. Essa manifestação tinha como finalidade reivindicar a redução da jornada de trabalho para 8 horas diárias e teve a participação de milhares de pessoas. Nesse dia teve início uma greve geral nos EUA. No dia 3 de Maio houve um pequeno levante que acabou com uma escaramuça com a polícia e com a morte de alguns manifestantes. No dia seguinte, 4 de Maio, uma nova manifestação foi organizada como protesto pelos acontecimentos dos dias anteriores, tendo terminado com o lançamento de uma bomba por desconhecidos para o meio dos policiais que começavam a dispersar os manifestantes, matando sete agentes. A polícia abriu então fogo sobre a multidão, matando doze pessoas e ferindo dezenas. Estes acontecimentos passaram a ser conhecidos como a Revolta de Haymarket.
Três anos mais tarde, a 20 de Junho de 1889, a segunda Internacional Socialista reunida em Paris decidiu por proposta de Raymond Lavigne convocar anualmente uma manifestação com o objetivo de lutar pelas 8 horas de trabalho diário. A data escolhida foi o 1º de Maio, como homenagem às lutas sindicais de Chicago. Em 1 de Maio de 1891 uma manifestação no norte de França é dispersada pela polícia resultando na morte de dez manifestantes. Esse novo drama serve para reforçar o dia como um dia de luta dos trabalhadores e meses depois a Internacional Socialista de Bruxelas proclama esse dia como dia internacional de reivindicação de condições laborais.
A 23 de Abril de 1919 o senado francês ratifica o dia de 8 horas e proclama o dia 1 de Maio desse ano dia feriado. Em 1920 a Rússia adota o 1º de Maio como feriado nacional, e este exemplo é seguido por muitos outros países. Apesar de até hoje os estadunidenses se negarem a reconhecer essa data como sendo o Dia do Trabalhador, em 1890 a luta dos trabalhadores estadunidenses conseguiram que o Congresso aprovasse que a jornada de trabalho fosse reduzida de 16 para 8 horas diárias.
Em Portugal, só a partir de Maio de
1974 (o ano da revolução do 25 de Abril) é que se voltou a comemorar livremente o Primeiro de Maio e este passou a ser feriado. Durante a ditadura do Estado Novo, a comemoração deste dia era reprimida pelas polícia. O Dia Mundial dos Trabalhadores é comemorado por todo o país, sobretudo com manifestações, comícios e festas de carácter reivindicativo, promovidas pela central sindical CGTP-Intersindical (Confederação Geral dos Trabalhadores Portuguêses - Intersindical) nas principais cidades de Lisboa e Porto, assim como pela central sindical UGT (União Geral das Trabalhadores). No Algarve, é costume a população fazer pic-nics e são organizadas algumas festas na região.

DIA DO TRABALHO NO BRASIL
Até o início da
Era Vargas (1930-1945) certos tipos de agremiação dos trabalhadores fabris eram bastante comuns, embora não constituíssem um grupo político muito forte, dada a pouca industrialização do país. Esta movimentação operária tinha se caracterizado em um primeiro momento por possuir influências do anarquismo e mais tarde do comunismo, mas com a chegada de Getúlio Vargas ao poder, ela foi gradativamente dissolvida e os trabalhadores urbanos passaram a ser influenciados pelo que ficou conhecido como trabalhismo.
Até então, o Dia do Trabalhador era considerado por aqueles movimentos anteriores (anarquistas e comunistas) como um momento de protesto e crítica às estruturas sócio-econômicas do país. A propaganda trabalhista de Vargas, sutilmente, transforma um dia destinado a celebrar o trabalhador no Dia do Trabalho. Tal mudança, aparentemente superficial, alterou profundamente as atividades realizadas pelos trabalhadores a cada ano, neste dia. Até então marcado por piquetes e passeatas, o Dia do Trabalho passou a ser comemorado com festas populares, desfiles e celebrações similares. Atualmente, esta característica foi assimilada até mesmo pelo movimento sindical: tradicionalmente a
Força Sindical (uma organização que congrega sindicatos de diversas áreas, ligada a partidos como o PTB) realiza grandes shows com nomes da música popular e sorteios de casas próprias e similares.
Aponta-se que o caráter massificador do Dia do Trabalho, no Brasil, se expressa especialmente pelo costume que os governos têm de anunciar neste dia o aumento anual do
salário mínimo.

COMPOSIÇÕES

Primeiro de Maio
Composição: Milton Nascimento e Chico Buarque (1977)

Hoje a cidade está parada
E ele apressa a caminhada
Pra acordar a namorada logo ali
E vai sorrindo, vai aflito
Pra mostrar, cheio de si
Que hoje ele é o senhor das suas mãos
E das ferramentas

Quando a sirene não apita
Ela acorda mais bonita
Sua pele é sua chita, seu fustão
E, bem ou mal, é seu veludo
É o tafetá que Deus lhe deu
E é bendito o fruto do suor
Do trabalho que é só seu

Hoje eles hão de consagrar
O dia inteiro para se amar tanto
Ele, o artesão
Faz dentro dela a sua oficina
E ela, a tecelã
Vai fiar nas malhas do seu ventre
O homem de amanhã.

“Meu Maio”
Composição: Vladimir Maiakovski

A todos
Que saíram às ruas
De corpo-máquina cansado,
A todos
Que imploram feriado
Às costas que a terra extenua –
Primeiro de Maio!
Meu mundo, em primaveras,
Derrete a neve com sol gaio.
Sou operário –
Este é o meu mês!
Sou camponês –
Este é o meu mês
Sou ferro –
Eis o maio que eu quero!
Sou terra –
O maio é minha era!

DIRETAS JÁ (25 de abril de 1984)


Entre os últimos meses de 1983 e abril de 1984, o Brasil foi agitado por um dos maiores movimentos cívicos de sua história: a campanha das "Diretas Já".
Grandes manifestações populares aconteceram em todo o país, reivindicando o restabelecimento das eleições diretas para presidente da República, que haviam sido substituídas por um pleito indireto no Congresso nacional durante o regime militar.
A idéia de que o processo de redemocratização da sociedade brasileira só se concretizaria com o retorno imediato das diretas foi lançada pelo senador alagoano Teotônio Vilela, do PMDB, em 1983.
Teotônio tornara-se um símbolo dos ideais democráticos, uma vez que, tendo sido partidário dos governos militares, aderiu à oposição e presidiu a comissão parlamentar que discutiu a anistia aos opositores presos ou exilados do regime.
O senador visitou pessoalmente presos políticos em todo o país, num momento em que isso ainda representava um ato de coragem e rebeldia. Sua morte, devida a um câncer generalizado, em 27 de novembro de 1983, coincidiu com o primeiro grande comício da campanha, que reuniu 15 mil pessoas na praça Charles Miller, em frente ao estádio do Pacaembu, na cidade de São Paulo.
O movimento ganhou um objetivo concreto quando o recém eleito deputado federal Dante de Oliveira, do PMDB de Mato Grosso, começou a recolher assinaturas no Congresso nacional para a apresentação de uma Proposta de Emenda Constitucional restabelecendo as eleições diretas. A proposta da emenda, que passou a ser conhecida pelo nome do deputado, vingou e teve sua votação marcada para 25 de abril de 1984.
A partir daí, a campanha ganhou as ruas, arregimentando um número crescente de partidários em todo o país, nos mais diversos setores da sociedade. Reuniram-se lideranças políticas, sindicais, eclesiásticas e estudantis.
Vários artistas, jogadores de futebol e jornalistas aderiram ao movimento, fazendo-o ganhar cada vez mais simpatizantes entre as camadas populares.
Entre as lideranças políticas de expressão nacional, merece destaque o nome do deputado federal Ulysses Guimarães (PMDB-SP), que ficou conhecido na época como o "Senhor Diretas". Além dele, também se destacaram o governador de São Paulo, Franco Montoro, o de Minas Gerais, Tancredo Neves, o do Rio de Janeiro, Leonel Brizola, e o de Pernambuco, Miguel Arraes. Ainda devem ser mencionados os nomes do então senador Fernando Henrique Cardoso (PMDB) e do presidente do Partido dos Trabalhadores, Luiz Inácio Lula da Silva.
Franco Montoro promoveu a primeira manifestação de massas da campanha: um comício na Praça da Sé em São Paulo, que reuniu cerca de 400 mil pessoas, em 25 de janeiro de 1984. A praça ficou repleta de bandeiras e camisetas amarelas, cor escolhida para simbolizar a reivindicação.
Sucederam-se manifestações em diversas outras capitais do país, dos quais sobressaíram o da Candelária, a 10 de abril, no Rio de Janeiro, e o do Anhangabaú, a 16 de abril, novamente em São Paulo.
Apesar do anseio explícito da esmagadora maioria da população brasileira, o governo militar, sob o comando do general-presidente João Figueiredo, ainda tinha poder sobre o Congresso. A emenda Dante de Oliveira, que precisava de 2/3 dos votos dos parlamentares para ser aprovada, acabou sendo rejeitada.
Votaram a seu favor 298 parlamentares; 65 foram contra e 3 se abstiveram. Porém, para não desagradar aos militares nem aos seus eleitores, 112 simplesmente não compareceram à votação. Assim, por 22 votos, os brasileiros tiveram adiado o sonho de votar para presidente da República - o que só aconteceria em 1989.
De qualquer modo, a campanha marcou a volta da politização da sociedade brasileira, reprimida durante os governos militares, bem como deu início ao movimento que veio a culminar com a eleição indireta de Tancredo Neves à presidência, em 1985. Do mesmo modo, a campanha consagrou novas lideranças políticas no país, como foram os casos de Fernando Henrique Cardoso e Lula, que chegaram a se tornar presidentes.

A MOBILIZAÇÃO POPULAR INSPIROU CHICO BUARQUE A COMPOR, AS CANÇÕES ABAIXO:

Vai Passar
Chico Buarque
Composição: Chico Buarque e Francis Hime

Vai passar nessa avenida um samba popular
Cada paralelepípedo da velha cidade essa noite vai se arrepiar
Ao lembrar que aqui passaram sambas imortais
Que aqui sangraram pelos nossos pés
Que aqui sambaram nossos ancestrais
Num tempo página infeliz da nossa história,
passagem desbotada na memória
Das nossas novas gerações
Dormia a nossa pátria mãe tão distraída
sem perceber que era subtraída
Em tenebrosas transações
Seus filhos estavam cegos pelo continente,
levavam pedras feito penitentes
Erguendo estranhas catedrais
E um dia, afinal, tinham o direito a uma alegria fugaz
Uma ofegante epidemia que se chamava carnaval,
o carnaval, o carnaval
Vai passar, palmas pra ala dos barões famintos
O bloco dos napoleões retintos
e os pigmeus do boulevard
Meu Deus, vem olhar, vem ver de perto uma cidade a cantar
A evolução da liberdade até o dia clarear
Ai que vida boa, ô lerê,
ai que vida boa, ô lará
O estandarte do sanatório geral vai passar
Ai que vida boa, ô lerê,
ai que vida boa, ô lará

Pelas Tabelas
Composição: Chico Buarque

Ando com minha cabeça já pelas tabelas
Claro que ninguém se importa com minha aflição
Quando vi todo mundo na rua de blusa amarela
Eu achei que era ela puxando o cordão

Oito horas e danço de blusa amarela
Minha cabeça talvez faça as pazes assim
Quando ouvi a cidade de noite batendo as panelas
Eu pensei que era ela voltando prá mim

Minha cabeça de noite batendo panelas
Provavelmente não deixa a cidade dormir
Quando vi um bocado de gente
Descendo as favelas
Eu achei que era o povo que vinha pedir
A cabeça de um homem que olhava as favelas
Minha cabeça rolando no maracanã

Quando vi a galera aplaudindo de pé as tabelas
Eu jurei que era ela que vinha chegando
Com minha cabeça já pelas tabelas
Claro que ninguém se importa com minha aflição
Quando vi todo mundo na rua de blusa amarela
Eu achei que era ela puxando o cordão

quarta-feira, 4 de junho de 2008

TIRADENTES E A INCONFIDÊNCIA MINEIRA


A Inconfidência Mineira foi um dos mais importantes movimentos sociais da História do Brasil. Significou a luta do povo brasileiro pela liberdade, contra a opressão do governo português no período colonial. Ocorreu em Minas Gerais no ano de 1789, em pleno ciclo do ouro.
No final do século XVIII, o Brasil ainda era colônia de Portugal e sofria com os abusos políticos e com a cobrança de altas taxas e
impostos. Além disso, a metrópole havia decretado uma série de leis que prejudicavam o desenvolvimento industrial e comercial do Brasil. No ano de 1785, por exemplo, Portugal decretou uma lei que proibia o funcionamento de industrias fabris em território brasileiro.
Vale lembrar também que, neste período, era grande a extração de ouro, principalmente na região de Minas Gerais. Os brasileiros que encontravam ouro deviam pagar o quinto, ou seja, vinte por cento de todo ouro encontrado acabava nos cofres portugueses. Aqueles que eram pegos com ouro “ilegal” (sem ter pago o imposto”) sofriam duras penas, podendo até ser degredado (enviado a força para o território africano).
Com a grande exploração, o ouro começou a diminuir nas minas. Mesmo assim as autoridades portuguesas não diminuíam as cobranças. Nesta época, Portugal criou a Derrama. Esta funcionava da seguinte forma: cada região de exploração de ouro deveria pagar 100 arrobas de ouro (1500 quilos) por ano para a metrópole. Quando a região não conseguia cumprir estas exigências, soldados da coroa entravam nas casas das famílias para retirarem os pertences até completar o valor devido.
Todas estas atitudes foram provocando uma insatisfação muito grande no povo e, principalmente, nos fazendeiros rurais e donos de minas que queriam pagar menos impostos e ter mais participação na vida política do país. Alguns membros da elite brasileira (intelectuais, fazendeiros, militares e donos de minas), influenciados pela idéias de liberdade que vinham do iluminismo europeu, começaram a se reunir para buscar uma solução definitiva para o problema: a conquista da independência do Brasil.
O grupo, liderado pelo alferes Joaquim José da Silva Xavier, conhecido por Tiradentes era formado pelos poetas Tomas Antonio Gonzaga e Cláudio Manuel da Costa, o dono de mina Inácio de Alvarenga, o padre Rolim, entre outros representantes da elite mineira. A idéia do grupo era conquistar a liberdade definitiva e implantar o sistema de governo republicano em nosso país. Sobre a questão da escravidão, o grupo não possuía uma posição definida. Estes inconfidentes chegaram a definir até mesmo uma nova bandeira para o Brasil. Ela seria composta por um triangulo vermelho num fundo branco, com a inscrição em latim : Libertas Quae Sera Tamen (Liberdade ainda que Tardia).
Tiradentes: líder da Inconfidência Mineira
Os inconfidentes haviam marcado o dia do movimento para uma data em que a derrama seria executada. Desta forma, poderiam contar com o apoio de parte da população que estaria revoltada. Porém, um dos inconfidentes, Joaquim Silvério dos Reis, delatou o movimento para as autoridades portuguesas, em troca do perdão de suas dívidas com a coroa. Todos os inconfidentes foram presos, enviados para a capital (Rio de Janeiro) e acusados pelo crime de infidelidade ao rei. Alguns inconfidentes ganharam como punição o degredo para a África e outros uma pena de prisão. Porém, Tiradentes, após assumir a liderança do movimento, foi condenado a forca em praça pública.Embora fracassada, podemos considerar a Inconfidência Mineira como um exemplo valoroso da luta dos brasileiros pela independência, pela liberdade e contra um governo que tratava sua
colônia com violência, autoritarismo, ganância e falta de respeito.

COMPOSIÇÕES

EXALTAÇÃO A TIRADENTES
Samba-enredo de 1949 – Império Serrano
Composição: Mano Décio, Estanislau Silva e Penteado
Joaquim José da Silva Xavier
Morreu a 21 de abril
Pela Independência do Brasil
Foi traído e não traiu jamais
A Inconfidência de Minas Gerais
Joaquim José da Silva Xavier
Era o nome de Tiradentes
Foi sacrificado pela nossa liberdade
Este grande herói
Pra sempre há de ser lembrado


TAL DIA É O BATIZADO
Samba-enredo de 1967 – PortelaComposição: Jabolô, Catoni e Waltenir Tiradentes.
Valoroso mártir inconfidente
Que o Brasil possuiu
Em Vila Rica
Cidade de Minas Gerais
Que há muitos anos atrás
Foi o palco de um capítulo a mais
Da nossa história
A senha dos revoltados
Era: TAL DIA É O BATIZADO
Para que o Brasil fosse libertado
Pelos conspiradores
Que eram bravos inconfidentes
intelectuais, vigários e coronéis
Liderados pelo alferes Tiradentes
Aquela época Visconde de Barbacena
Executor da derrama
Foi móvel essencial
Para este episódio nacional
Que incentivou indiretamente
Tornar o Brasil independente
Mais tarde, foram traídos
Por JOAQUIM SILVÉRIO DOS REIS
O delator
Só ameaçado o vigário
ConfessouÔ......ô......
E aqui no Rio de Janeiro
TIRADENTES tornou-se prisioneiro
Sendo sacrificado a 21 de abril
abrindo o caminho
da INDEPENDÊNCIA DO BRASIL