terça-feira, 8 de janeiro de 2008

BOTA O RETRATO DO VELHO OUTRA VEZ... NO MESMO LUGAR...


Em 1950, teve início a campanha pela sucessão de Dutra. O candidato do Presidente, pelo PSD, foi o inexpressivo Cristiano Machado. A UDN lançou, novamente, Eduardo Gomes. O homem da coligação PTB-PSP (Partido Social Progressista) foi Getúlio Vargas. O PSP era o partido do governador de São Paulo, Ademar de Barros, que indicou como vice, na chapa de Getúlio, João Café Filho. Também foi feito um acordo: Getúlio em 1950, Ademar em 1955, um em apoio ao outro.
Em 31 de janeiro, Getúlio Vargas voltou ao poder – obteve nas eleições 48,7% dos votos. Mas, desde sua candidatura, não faltou quem lhe fizesse oposição. O jornalista Carlos Lacerda, dono do jornal carioca Tribuna da Imprensa e líder da UDN, foi o seu maior inimigo político nessa fase: “O Sr. Getúlio Vargas... não deve ser candidato à Presidência. Candidato, não deve ser eleito. Eleito, não deve tomar posse. Empossado, devemos recorrer à revolução para impedi-lo de governar”.
Em 1951, a marchinha de Haroldo Lobo e Marino Pinto, Retrato do velho, gravada por Chico Alves, comemorou a volta do “pai dos pobres”:

...Bota o retrato do velho outra vez
Bota no mesmo lugar...
O sorriso do velhinho
Faz a gente trabalhar...

O governo de Getúlio se inicia de modo contraditório. Apesar de seu discurso nacionalista – que defendia o aprofundamento das conquistas dos trabalhadores, as restrições ao capital estrangeiro, a intervenção do Estado na economia -, seu ministério foi composto, majoritariamente, por elementos que defendiam a total liberdade de ação do capital internacional, a eliminação de algumas conquistas trabalhistas, a não-intervenção do Estado nos assuntos econômicos. Essa situação se justifica pelo fato de Vargas ter dividas eleitorais com grupos que defendiam o liberalismo econômico.
O Presidente retomou o discurso industrialista, porém faltava no país capital para a indústria de base e obras de infra-estrutura. Dessa forma, Getúlio endossou as conclusões da Missão Abbink e assinou um acordo com o governo dos EUA – o Brasil receberia um empréstimo de 400 milhões de dólares. A pretensão de Getúlio era que houvesse uma participação ponderada de capital estrangeiro na economia nacional.
Entre 1952 e 1953, Vargas apoiou o slogan “O PETRÓLEO É NOSSO”, que na verdade já havia no país desde o final do governo Dutra, em 1949. Em 1953, depois de uma intensa campanha – que colocava, de um lado, os chamados “entreguistas”, apoiados pelas multinacionais do petróleo e pelo governo dos EUA; do outro, a presidência, os sindicatos, a UNE (União Nacional dos Estudantes) e grande parte da opinião pública -, Vargas criou a Petrobras. Estabeleceu-se o monopólio da exportação e refino do produto, mas se permitiu que a distribuição continuasse nas mãos de empresas estrangeiras.
Contra Vargas aconteceram várias pressões diplomáticas e econômicas. Em junho de 1953, os EUA romperam o acordo de empréstimo – dos 400 milhões de dólares, vieram apenas 180.
Além da criação da Petrobras, outras medidas desagradaram os EUA e a maioria do ministério de Vargas. O Presidente criou uma lei que restringia a remessa de lucros para o exterior e outra que controlava a entrada do capital estrangeiro.
A campanha contra o nacionalismo de Vargas e uma suposta infiltração comunista contou com a adesão dos militares não-nacionalistas, da UDN, da grande imprensa (comandada por Carlos Lacerda) e dos capitalistas estrangeiros. Todos só precisavam de um pretexto para realizar um golpe e tirar Getúlio do Catete. O pretexto chegou.
Na madrugada de 5 de agosto de 1954, dois pistoleiros tentaram matar Lacerda na porta de sua casa, na Rua Toneleiros, Copacabana. Lacerda teve ferimentos leves no pé, mas mataram o major da aeronáutica, Rubens Vaz, que protegia o jornalista.
Na noite do dia 23, Vargas comentou com seu irmão Bejo (Benjamim Vargas): “A UDN está preparando um banquete. Na hora que sentarem à mesa, eu puxo a toalha”. Na madrugada de 24 de agosto, por volta das 4 horas e 30 minutos, Getúlio suicidou-se com um tiro no coração.
Como no Brasil tudo vira samba, a carta-testamento de Vargas foi musicada e gravada por Moreira da Silva:

A carta
...Não me combatem, caluniam com certeza
Numa perseguição atroz
Não me dão direito de defesa
Precisam sufocar a minha voz...

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