Brigamos muito com Portugal antes de conseguirmos a independência.
Em 1684, por exemplo, fazendeiros maranhenses alegavam não ter dinheiro para comprar escravos africanos (os padres dificultavam a escravização de índios). O rei criou uma empresa para financiar a compra, ela não andou direito, os fazendeiros perderam a paciência, fecharam o negócio, expulsaram os jesuítas. Os líderes, Jorge Sampaio e Manoel Bequimão, foram enforcados.
1684
Por trinta dinheiros,
O mascate compra
A mitra do bispo,
O cetro do rei,
A balança da lei.
Só não compra (abusão)
A cumplicidade
De Bequimão.
Em 1720, um minerador de pavio curto, Felipe dos Santos, se recusou a pagar a quinta parte de todo ouro extraído a Portugal. Levantou os outros, mas acabou enforcado e esquartejado.
1720
Pobre despojo
Atado aos cavalos
Do despotismo
Pobre heroísmo
Punido com sangue
Sobre o patíbulo
Amargo de prantos,
Felipe dos Santos.
Em 1798, quatro negros (um soldado e três alfaiates) foram enforcados na Bahia. Queriam a independência, o fim do trabalho escravo e, um deles, a divisão das fortunas. Dezenas de militares, de baixa patente, foram presos, depois libertados. O médico Cipriano José Barata entre eles. Alguns eram maçons, outros, “francesistas”, crentes nas idéias democráticas de Rousseau, Voltaire, Mably etc.
1798
Vosso cuidado media,
Vossa tesoura cortava,
Vossa agulha costurava,
Não a libré do tirano,
Mas a mortalha de pano
Para enterrar o verdugo
Que tantos vos oprimia,
Alfaiates da Bahia.
Em 1817, em Pernambuco, um grupo de revolucionários decidiu fazer a independência imediatamente. A revolta começou num quartel, mas ganhou a rua. Os portugueses que não se enfiaram em casa foram maltratados. O governador, Caetano Pinto, comportou-se como tal. Os revolucionários, na maioria padres, agüentaram-se três meses no poder. Aumentaram o ordenado dos militares, tiraram o comércio da mão dos portugueses, ordenaram que, pobre ou rico, todos fossem chamados de cidadão. Tentaram, em vão, acabar com a escravidão. Centenas de revolucionários, como de costume, foram enforcados. A independência do Brasil estava próxima.
1817
Cruz de jesuíta,
Batina de frade,
Bíblia, escapulário.
Mas (raro litígio)
Um barrete frígio,
Vermelho, escarninho,
Cobrindo a tonsura
De Frei Miguelinho.
Durante o processo da independência, muitas províncias (hoje estados) tentaram se separar do Brasil. O Rio Grande do Sul e Santa Catarina fizeram isso por dez anos (Guerra dos Farrapos). Giuseppe Garibaldi, carbonário (revolucionário anarquista), ajudou os revolucionário gaúchos a tomar Laguna, ocasião em que roubou do marido a adolescente Anita. Os dois deram uma mão à luta contra a ditadura uruguaia e pela unificação da Itália (onde Anita morreu). Giuseppe lutou até o fim da vida pelo nacionalismo e a justiça social. Foi, há duzentos anos, uma espécie de Ernesto Che Guevara.
1839
Garibaldi
Foi à missa
Convidado,
Mas debalde.
Não há santo,
Nem vigário
Que converta
Um carbonário.
Pedro Ivo Veloso, ídolo da juventude libertária no século 19, foi um guerrilheiro da Rebelião Praieira. Com a derrota, veio preso para o Rio, fugiu num navio estrangeiro, desaparecendo á altura do litoral da Paraíba.
1848
A areia do tempo
Nada guarda. O vento
Logo apaga o equívoco
De oprimidos e opressores.
Mas, Conciliadores,
Lembrai-vos que os vivos
Não enterram mortos
Como Pedro Ivo.
Em 1684, por exemplo, fazendeiros maranhenses alegavam não ter dinheiro para comprar escravos africanos (os padres dificultavam a escravização de índios). O rei criou uma empresa para financiar a compra, ela não andou direito, os fazendeiros perderam a paciência, fecharam o negócio, expulsaram os jesuítas. Os líderes, Jorge Sampaio e Manoel Bequimão, foram enforcados.
1684
Por trinta dinheiros,
O mascate compra
A mitra do bispo,
O cetro do rei,
A balança da lei.
Só não compra (abusão)
A cumplicidade
De Bequimão.
Em 1720, um minerador de pavio curto, Felipe dos Santos, se recusou a pagar a quinta parte de todo ouro extraído a Portugal. Levantou os outros, mas acabou enforcado e esquartejado.
1720
Pobre despojo
Atado aos cavalos
Do despotismo
Pobre heroísmo
Punido com sangue
Sobre o patíbulo
Amargo de prantos,
Felipe dos Santos.
Em 1798, quatro negros (um soldado e três alfaiates) foram enforcados na Bahia. Queriam a independência, o fim do trabalho escravo e, um deles, a divisão das fortunas. Dezenas de militares, de baixa patente, foram presos, depois libertados. O médico Cipriano José Barata entre eles. Alguns eram maçons, outros, “francesistas”, crentes nas idéias democráticas de Rousseau, Voltaire, Mably etc.
1798
Vosso cuidado media,
Vossa tesoura cortava,
Vossa agulha costurava,
Não a libré do tirano,
Mas a mortalha de pano
Para enterrar o verdugo
Que tantos vos oprimia,
Alfaiates da Bahia.
Em 1817, em Pernambuco, um grupo de revolucionários decidiu fazer a independência imediatamente. A revolta começou num quartel, mas ganhou a rua. Os portugueses que não se enfiaram em casa foram maltratados. O governador, Caetano Pinto, comportou-se como tal. Os revolucionários, na maioria padres, agüentaram-se três meses no poder. Aumentaram o ordenado dos militares, tiraram o comércio da mão dos portugueses, ordenaram que, pobre ou rico, todos fossem chamados de cidadão. Tentaram, em vão, acabar com a escravidão. Centenas de revolucionários, como de costume, foram enforcados. A independência do Brasil estava próxima.
1817
Cruz de jesuíta,
Batina de frade,
Bíblia, escapulário.
Mas (raro litígio)
Um barrete frígio,
Vermelho, escarninho,
Cobrindo a tonsura
De Frei Miguelinho.
Durante o processo da independência, muitas províncias (hoje estados) tentaram se separar do Brasil. O Rio Grande do Sul e Santa Catarina fizeram isso por dez anos (Guerra dos Farrapos). Giuseppe Garibaldi, carbonário (revolucionário anarquista), ajudou os revolucionário gaúchos a tomar Laguna, ocasião em que roubou do marido a adolescente Anita. Os dois deram uma mão à luta contra a ditadura uruguaia e pela unificação da Itália (onde Anita morreu). Giuseppe lutou até o fim da vida pelo nacionalismo e a justiça social. Foi, há duzentos anos, uma espécie de Ernesto Che Guevara.
1839
Garibaldi
Foi à missa
Convidado,
Mas debalde.
Não há santo,
Nem vigário
Que converta
Um carbonário.
Pedro Ivo Veloso, ídolo da juventude libertária no século 19, foi um guerrilheiro da Rebelião Praieira. Com a derrota, veio preso para o Rio, fugiu num navio estrangeiro, desaparecendo á altura do litoral da Paraíba.
1848
A areia do tempo
Nada guarda. O vento
Logo apaga o equívoco
De oprimidos e opressores.
Mas, Conciliadores,
Lembrai-vos que os vivos
Não enterram mortos
Como Pedro Ivo.
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