A globalização é o tema que toma conta do debate no final do século XX e começo do XXI. A Interligação instantânea e a integração comercial e cultural dos mais longínquos rincões do planeta geram inclusão por um lado e a exclusão de milhões de seres humanos em países pobres, por outro. Em termos nacionais, a grande questão que se coloca ao Brasil é que tipo de inserção nos mercados globais o aguarda: uma inserção soberana e justa ou uma inserção subserviente e colonizada?
A canção Parabolicamará, de Gilberto Gil, reflete o grande tema deste final de século, a globalização. Na verdade a integração comercial e cultural entre os diversos pontos do planeta teve seu início entre os séculos XV e XVI, com as chamadas Grandes Navegações portuguesas que, entre outras descobertas, inclui a do Brasil. Com a queda da orientação soviética no Leste Europeu e o fim da própria URSS em 91, essa integração se ampliou. O inglês passou a ser a língua-padrão para negócios no mundo todo.
Parabolicamará
(Gilberto Gil)
Antes mundo era pequeno
Porque Terra era grande
Hoje mundo é muito grande
Porque Terra é pequena
Do tamanho da antena parabolicamará
Ê, volta do mundo, câmara
Ê-ê, mundo dá volta, câmara
Antes longe era distante
Perto, só quando dava
Quando muito, ali defronte
E o horizonte acabava
Hoje lá trás dos montes, den de casa, camará
Ê, volta do mundo, camará
Ê-ê, mundo dá volta, camará
De jangada leva uma eternidade
De saveiro leva uma encarnação
Pela onda luminosa
Leva o tempo de um raio
Tempo que levava Rosa
Pra aprumar o balaio
Quando sentia que o balaio ia escorregar
Ê, volta do mundo, câmara
Ê-ê, mundo dá volta, câmara
Esse tempo nunca passa
Não é de ontem nem de hoje
Mora no som da cabaça
Nem tá preso nem foge
No instante que tange o berimbau, meu camará
Ê, volta do mundo, camará
Ê-ê, mundo dá volta, camará
De jangada leva uma eternidade
De saveiro leva uma encarnação
De avião, o tempo de uma saudade
Esse tempo não tem rédea
Vem nas asas do vento
O momento da tragédia
Chico, Ferreira e Bento
Só souberam na hora do destino apresentar
Ê, volta do mundo, camará
Ê-ê, mundo dá volta, camará
No final dos anos 80, foi formado o grupo paulista Mamonas Assassinas. Seu primeiro e único LP-CD foi gravado em 1995 e conquistou um sucesso meteórico. Parodiando os diversos estilos musicais – pagode, sertanejo, heavy metal, brega, pop rock – fizeram uma aparição competente, bem-humorada e muito rápida. Todos os integrantes do grupo morreram em um acidente de avião na madrugada de 2 de março de 1996.
O único disco da banda, enorme sucesso entre as crianças, pode ser entendido como um manifesto antiglobalização.
Num gesto antropofágico, semelhante ao do cantor cearense Falcão e sua I am not dog não, as letras das canções dos Mamonas devoram o idioma da globalização e da Internet e o submetem às regras gramaticais da língua portuguesa. O inglês, nos Mamonas e em Falcão, é apenas um instrumento ampliador do vocabulário e das formas de expressão, numa nítida intenção de ridicularizá-lo:
1406
(Dinho e Júlio Rasec)
Money que é good nóis num have
Se nóis havasse nóis num tava aqui
Playando
Mas nóis precisa de wodká
Money que é good nóis num have
Se nóis havesse nóis num tava aqui
Workando
O nosso work é playá.
Além do idioma, os Mamonas Assassinas cantam o excluído do consumo universal determinado pela globalização: tudo que ela olha a desgraçada quer:/televisão, microondas, micro system, microscópio, /limpa vidro, limpa-chifre/facas Ginsu. Mesmo indo ao chopis centis, comendo pão com gergelim ou usando um tênis Reebok ou uma calça Fiorucci, não é possível conquistar a mulher very beautiful. Ela certamente estará em um nível superior ao do carro velho que o excluído pode ter: O alemão de carro conversível/Eu mexendo nos fuzível, nem vi quando/Você me deixou/Só porque é lindo, loiro e forte/Tem dinheiro e um Escort,/Como Modess, você me trocou.
O processo de informatização ganhou novo fôlego com a popularização da Internet. A rede mundial de computadores criou um novo tipo de trabalhador no final do século. O trabalho sem sair de casa. Diante da tela de um microcomputador pessoal, é possível fazer compras, obter informações e comunicar-se com o mundo todo, “navegando” na rede.
Deixemos que a música nos forneça maiores detalhes sobre a linguagem e os recursos desse novo meio.
Também de Gilberto Gil é a canção Pela Internet, de 97, uma referência ao samba Pelo telefone, gravado oitenta anos antes:
Criar meu web site
Fazer minha home page
Com quantos gigabytes
Se faz uma jangada
Um barco que veleje
Que veleje nesse informar
Que aproveite a vazante da informaré
Que leve um oriki do meu orixá
Ao porto de um disquete de um micro em Taipe
Um barco que veleje nesse informar
Que aproveite a vazante da informaré
Que leve meu e-mail até Calcutá
Depois um hot-link
Num site de Helsinque
Para abastecer
Eu quero andar na rede
Promover um debate
Juntar via Internet
Um grupo de tietes de Connecticut
De Connecticut acessar
O chefe da Macmilícia de Milão
Um hacker mafioso acaba de soltar
Um vírus pra atacar programas do Japão
Eu quero entrar na rede pra contactar
Os lares do Nepal, os bares do Gabão
Que o chefe da polícia carioca avisa pelo celular
Que lá na Praça Onze tem um videopôquer para se jogar.
A canção Parabolicamará, de Gilberto Gil, reflete o grande tema deste final de século, a globalização. Na verdade a integração comercial e cultural entre os diversos pontos do planeta teve seu início entre os séculos XV e XVI, com as chamadas Grandes Navegações portuguesas que, entre outras descobertas, inclui a do Brasil. Com a queda da orientação soviética no Leste Europeu e o fim da própria URSS em 91, essa integração se ampliou. O inglês passou a ser a língua-padrão para negócios no mundo todo.
Parabolicamará
(Gilberto Gil)
Antes mundo era pequeno
Porque Terra era grande
Hoje mundo é muito grande
Porque Terra é pequena
Do tamanho da antena parabolicamará
Ê, volta do mundo, câmara
Ê-ê, mundo dá volta, câmara
Antes longe era distante
Perto, só quando dava
Quando muito, ali defronte
E o horizonte acabava
Hoje lá trás dos montes, den de casa, camará
Ê, volta do mundo, camará
Ê-ê, mundo dá volta, camará
De jangada leva uma eternidade
De saveiro leva uma encarnação
Pela onda luminosa
Leva o tempo de um raio
Tempo que levava Rosa
Pra aprumar o balaio
Quando sentia que o balaio ia escorregar
Ê, volta do mundo, câmara
Ê-ê, mundo dá volta, câmara
Esse tempo nunca passa
Não é de ontem nem de hoje
Mora no som da cabaça
Nem tá preso nem foge
No instante que tange o berimbau, meu camará
Ê, volta do mundo, camará
Ê-ê, mundo dá volta, camará
De jangada leva uma eternidade
De saveiro leva uma encarnação
De avião, o tempo de uma saudade
Esse tempo não tem rédea
Vem nas asas do vento
O momento da tragédia
Chico, Ferreira e Bento
Só souberam na hora do destino apresentar
Ê, volta do mundo, camará
Ê-ê, mundo dá volta, camará
No final dos anos 80, foi formado o grupo paulista Mamonas Assassinas. Seu primeiro e único LP-CD foi gravado em 1995 e conquistou um sucesso meteórico. Parodiando os diversos estilos musicais – pagode, sertanejo, heavy metal, brega, pop rock – fizeram uma aparição competente, bem-humorada e muito rápida. Todos os integrantes do grupo morreram em um acidente de avião na madrugada de 2 de março de 1996.
O único disco da banda, enorme sucesso entre as crianças, pode ser entendido como um manifesto antiglobalização.
Num gesto antropofágico, semelhante ao do cantor cearense Falcão e sua I am not dog não, as letras das canções dos Mamonas devoram o idioma da globalização e da Internet e o submetem às regras gramaticais da língua portuguesa. O inglês, nos Mamonas e em Falcão, é apenas um instrumento ampliador do vocabulário e das formas de expressão, numa nítida intenção de ridicularizá-lo:
1406
(Dinho e Júlio Rasec)
Money que é good nóis num have
Se nóis havasse nóis num tava aqui
Playando
Mas nóis precisa de wodká
Money que é good nóis num have
Se nóis havesse nóis num tava aqui
Workando
O nosso work é playá.
Além do idioma, os Mamonas Assassinas cantam o excluído do consumo universal determinado pela globalização: tudo que ela olha a desgraçada quer:/televisão, microondas, micro system, microscópio, /limpa vidro, limpa-chifre/facas Ginsu. Mesmo indo ao chopis centis, comendo pão com gergelim ou usando um tênis Reebok ou uma calça Fiorucci, não é possível conquistar a mulher very beautiful. Ela certamente estará em um nível superior ao do carro velho que o excluído pode ter: O alemão de carro conversível/Eu mexendo nos fuzível, nem vi quando/Você me deixou/Só porque é lindo, loiro e forte/Tem dinheiro e um Escort,/Como Modess, você me trocou.
O processo de informatização ganhou novo fôlego com a popularização da Internet. A rede mundial de computadores criou um novo tipo de trabalhador no final do século. O trabalho sem sair de casa. Diante da tela de um microcomputador pessoal, é possível fazer compras, obter informações e comunicar-se com o mundo todo, “navegando” na rede.
Deixemos que a música nos forneça maiores detalhes sobre a linguagem e os recursos desse novo meio.
Também de Gilberto Gil é a canção Pela Internet, de 97, uma referência ao samba Pelo telefone, gravado oitenta anos antes:
Criar meu web site
Fazer minha home page
Com quantos gigabytes
Se faz uma jangada
Um barco que veleje
Que veleje nesse informar
Que aproveite a vazante da informaré
Que leve um oriki do meu orixá
Ao porto de um disquete de um micro em Taipe
Um barco que veleje nesse informar
Que aproveite a vazante da informaré
Que leve meu e-mail até Calcutá
Depois um hot-link
Num site de Helsinque
Para abastecer
Eu quero andar na rede
Promover um debate
Juntar via Internet
Um grupo de tietes de Connecticut
De Connecticut acessar
O chefe da Macmilícia de Milão
Um hacker mafioso acaba de soltar
Um vírus pra atacar programas do Japão
Eu quero entrar na rede pra contactar
Os lares do Nepal, os bares do Gabão
Que o chefe da polícia carioca avisa pelo celular
Que lá na Praça Onze tem um videopôquer para se jogar.
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