terça-feira, 8 de janeiro de 2008

O MAL DO SÉCULO


Assim como o Bacilo de Koch (bactéria causadora da tuberculose), até a primeira metade do século, que nos privou de Noel Rosa, por exemplo, o vírus HIV causou e causa danos irreparáveis à nossa arte musical.
Em 1988, Cazuza (Agenor de Miranda Araújo Neto), o ex-integrante do grupo Barão Vermelho, compôs e gravou o álbum Ideologia e nele anunciou na música-título:

...O meu prazer agora é risco de vida
Meu sex and drugs não tem nenhum rock´n´roll..

No mesmo ano, Cazuza gravou, ao vivo no Canecão (RJ), no disco O tempo não pára, a sua música Boas novas:

...senhoras e senhores
trago boas novas
eu vi a cara da morte e ela estava viva...

Apesar de todas as “bandeiras”, só em 1989 ele assumiu publicamente que era uma vítima da AIDS. Em 1990, Cazuza, um dos maiores poetas de sua geração, morreu.
Por uma triste coincidência, outro grande poeta da mesma geração morreu vitimado pelo mesmo mal. Renato Russo (Renato Manfredini Júnior), ex-integrante do grupo punk de Brasília (Aborto Elétrico), que depois se transformou num dos maiores nomes da música dos anos 80 à frente da Legião Urbana.
Renato morreu em 1996. Dentre as suas várias letras, algumas falaram de seu drama pessoal.

Há tempos
(Renato Russo, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá)

...Há tempos são os jovens que adoecem
Há tempos o encanto está ausente...

Pais e Filhos
(Renato Russo, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá)

...É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã
Porque se você parar para pensar, na verdade não há...

Quando o sol bater na janela do seu quarto
(Renato Russo, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá)

...Tudo é dor e toda dor vem do desejo de não sentirmos dor...

As três composições citadas são do álbum As quatros estações.
Em 1998, em um disco da série Acústico MTV, Rita Lee gravou a música O gosto azedo, de seu filho Beto Lee, que talvez seja a melhor composição sobre o mal que pôs abaixo a liberdade sexual, conquistada nos anos 60, e que entra no novo milênio sem cura.




Para o sangue sou o veneno
Eu mato, eu como, eu dreno...
Uma nova ditadura
Terminal da loucura
Sou o vírus sem cura
Sou o HIV que você não vê...


A QUESTÃO FUNDIÁRIA

O problema da grande concentração de terras coincide no Brasil com a questão da concentração de renda. As tímidas iniciativas dos últimos governantes para promoção da reforma agrária não foram suficientes para conter conflitos no campo entre latifundiários e agricultores sem-terra. O MST (Movimento dos trabalhadores rurais sem-terra), criado em 1985, tem organizado as ações no campo, como ocupação de terras improdutivas e pressionado politicamente o governo para assentamentos de famílias e financiamentos da produção da agricultura familiar.
Dentre episódios violentos merecem destaques o choque entre os sem-terra e a polícia militar em Eldorado dos Carajás, PA, em 1996, com vários mortos e feridos.
Em 1997, foi lançado o livro “Terra”, com fotos de Sebastião Salgado, textos do premiado escritor português José Saramago e um CD com músicas de Chico Buarque. A renda foi revertida para o MST.
Assentamento
(Chico Buarque)

“Quando eu morrer, que me enterrem na
beira do chapadão
contente com minha terra
cansado de tanta guerra
crescido do coração”
(apud Guimarães Rosa)...
...Quando eu morrer
Cansado de guerra
Morro de bem
Com minha terra:
Cana, caqui
Inhame abóbora
Onde só vento se semeava outrora
Amplidão, nação, sertão sem fim
Ó Manuel, Miguilin
Vamos embora.

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