O novo samba-canção, porém, não foi a única novidade musical do Brasil do pós-guerra. Em outubro de 1946, a gravadora Odeon lançou um disco, do conjunto vocal Quatro Ases e Um Coringa, que apresentava, no lado B, uma música que iría revolucionar o mercado musical do país. Chamava-se Baião, de Luís Gonzaga e Humberto Teixeira, e a sua letra não escondia que se tratava de uma novidade:
Eu vou mostrar pra vocês
Como se dança o baião
E quem quiser aprender
É favor prestar atenção
Segundo o mestre Luís da Câmara Cascudo, em seu Dicionário do folclore brasileiro, o baião era uma dança muito popular do Nordeste no século XIX. Ele cita o estudioso Rodrigues de Carvalho, autor do livro Cancioneiro do Norte, lançado em 1928, e que, ao abordar os gêneros musicais da região, falou do baião, também conhecido como baiano: “comum entre a canalha e toma diversas modalidades coreográficas.” Luís da Câmara Cascudo lembrou que, desde 1946, “o grande sanfoneiro pernambucano Luís Gonzaga divulgou pelas estações de rádio do Rio de Janeiro o baião, modificando-o com a inconsciente influência local dos sambas e das congas cubanas. O baião, vitorioso em todo o Brasil, conserva células rítmicas e melódicas visíveis dos cocos, a rítmica (de percussão) com a unidade de compasso exclusivamente par”.
Baião teve várias gravações, mas somente em 1949 Luís Gonzaga gravou-a como cantor, colocando-a outra vez entre os discos mais vendidos do país. Nascia um gênero musical que iría empolgar não só o público brasileiro como o de vários outros países, pois o baião foi, de fato, um sucesso internacional. O gênero enriqueceu a música popular brasileira com muitas obras-primas, entre as quais Asa Branca, também da dupla Luís Gonzaga e Humberto Teixeira, dotada de uma melodia belíssima e de versos que podem figurar em qualquer antologia da poesia popular brasileira, como, por exemplo, “Quando o verde dos teus óio/Se espaiá na prantação”.
Os autores de Baião já perseguiam o sucesso há algum tempo, quando a música foi gravada pelo conjunto Quatro Ases e Um Coringa. Luís Gonzaga do Nascimento, pernambucano da cidade de Exu, estava com 34 anos de idade e atuava no Rio de Janeiro, desde 1939, quando iniciou a sua carreira tocando sanfona na rua e passando o chapéu para recolher o dinheiro dos transeuntes. Tocou também em bares da zona de meretrício do Mangue, passando depois para os cabarés da Lapa. Participou de programas radiofônicos de calouros, sem muito êxito, até que ganhou a nota máxima no programa de Ari Barroso tocando vira e mexe, música de sua autoria, cujo gênero identificava como chamego. Graças a essa apresentação, começou a atuar em programas radiofônicos, até ser convidado, em 1941, a gravar o seu primeiro disco na RCA Victor, ainda como sanfoneiro. Somente em 1943 conseguiu gravar como cantor. Nessa fase, lançou-se também como compositor, geralmente em parceria com Miguel Lima. O primeiro grande sucesso da dupla foi o calango Dezessete e setecentos, gravado por Manezinho Araújo, também pernambucano e extraordinário cantor de músicas nordestinas, especialmente de emboladas. Em fins de 1945, passou a compor com Humberto Teixeira (Baião foi a primeira obra da dupla). Pela contribuição prestada à consagração da música nordestina em todo o país, Luís Gonzaga pode ser considerado um dos pais da música popular brasileira, figurando numa galeria ao lado de nomes como os de Ernesto Nazaré, Pixinguinha, Noel Rosa, Ari Barroso, Dorival Caymmi e Antônio Carlos Jobim, entre outros.
Humberto Cavalcante Teixeira (1916-1979) era um cearense radicado no Rio de Janeiro desde a adolescência. No Rio, fez seus estudos e formou-se advogado. Considerado um dos maiores letristas da música popular brasileira, teve gravada, em 1944, a sua primeira composição: Sinfonia do café, um samba apoteótico, que fez com o maestro Lírio Panicalli e que foi interpretado pelo cantor Déo. Em 1950, foi eleito deputado federal pelo Ceará, quando apresentou uma lei obrigando o governo a financiar uma excursão de músicos e cantores brasileiros para o exterior. Conhecida como Lei Humberto Teixeira, ela permaneceu em vigor até 1964, quando foi revogada pelo regime militar que derrubou o presidente João Goulart.
Eu vou mostrar pra vocês
Como se dança o baião
E quem quiser aprender
É favor prestar atenção
Segundo o mestre Luís da Câmara Cascudo, em seu Dicionário do folclore brasileiro, o baião era uma dança muito popular do Nordeste no século XIX. Ele cita o estudioso Rodrigues de Carvalho, autor do livro Cancioneiro do Norte, lançado em 1928, e que, ao abordar os gêneros musicais da região, falou do baião, também conhecido como baiano: “comum entre a canalha e toma diversas modalidades coreográficas.” Luís da Câmara Cascudo lembrou que, desde 1946, “o grande sanfoneiro pernambucano Luís Gonzaga divulgou pelas estações de rádio do Rio de Janeiro o baião, modificando-o com a inconsciente influência local dos sambas e das congas cubanas. O baião, vitorioso em todo o Brasil, conserva células rítmicas e melódicas visíveis dos cocos, a rítmica (de percussão) com a unidade de compasso exclusivamente par”.
Baião teve várias gravações, mas somente em 1949 Luís Gonzaga gravou-a como cantor, colocando-a outra vez entre os discos mais vendidos do país. Nascia um gênero musical que iría empolgar não só o público brasileiro como o de vários outros países, pois o baião foi, de fato, um sucesso internacional. O gênero enriqueceu a música popular brasileira com muitas obras-primas, entre as quais Asa Branca, também da dupla Luís Gonzaga e Humberto Teixeira, dotada de uma melodia belíssima e de versos que podem figurar em qualquer antologia da poesia popular brasileira, como, por exemplo, “Quando o verde dos teus óio/Se espaiá na prantação”.
Os autores de Baião já perseguiam o sucesso há algum tempo, quando a música foi gravada pelo conjunto Quatro Ases e Um Coringa. Luís Gonzaga do Nascimento, pernambucano da cidade de Exu, estava com 34 anos de idade e atuava no Rio de Janeiro, desde 1939, quando iniciou a sua carreira tocando sanfona na rua e passando o chapéu para recolher o dinheiro dos transeuntes. Tocou também em bares da zona de meretrício do Mangue, passando depois para os cabarés da Lapa. Participou de programas radiofônicos de calouros, sem muito êxito, até que ganhou a nota máxima no programa de Ari Barroso tocando vira e mexe, música de sua autoria, cujo gênero identificava como chamego. Graças a essa apresentação, começou a atuar em programas radiofônicos, até ser convidado, em 1941, a gravar o seu primeiro disco na RCA Victor, ainda como sanfoneiro. Somente em 1943 conseguiu gravar como cantor. Nessa fase, lançou-se também como compositor, geralmente em parceria com Miguel Lima. O primeiro grande sucesso da dupla foi o calango Dezessete e setecentos, gravado por Manezinho Araújo, também pernambucano e extraordinário cantor de músicas nordestinas, especialmente de emboladas. Em fins de 1945, passou a compor com Humberto Teixeira (Baião foi a primeira obra da dupla). Pela contribuição prestada à consagração da música nordestina em todo o país, Luís Gonzaga pode ser considerado um dos pais da música popular brasileira, figurando numa galeria ao lado de nomes como os de Ernesto Nazaré, Pixinguinha, Noel Rosa, Ari Barroso, Dorival Caymmi e Antônio Carlos Jobim, entre outros.
Humberto Cavalcante Teixeira (1916-1979) era um cearense radicado no Rio de Janeiro desde a adolescência. No Rio, fez seus estudos e formou-se advogado. Considerado um dos maiores letristas da música popular brasileira, teve gravada, em 1944, a sua primeira composição: Sinfonia do café, um samba apoteótico, que fez com o maestro Lírio Panicalli e que foi interpretado pelo cantor Déo. Em 1950, foi eleito deputado federal pelo Ceará, quando apresentou uma lei obrigando o governo a financiar uma excursão de músicos e cantores brasileiros para o exterior. Conhecida como Lei Humberto Teixeira, ela permaneceu em vigor até 1964, quando foi revogada pelo regime militar que derrubou o presidente João Goulart.
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